São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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VINICIUS MOTA

USP, 75

SÃO PAULO - É crônico, e não dramático, o mal que acomete a Universidade de São Paulo aos 75 anos de existência. Seu prestígio e seu peso acadêmico não estão sob ameaça iminente. Mas um desperdício de potencial ali se acumula ano após ano, enquanto gerações de dirigentes universitários cada vez mais limitados se sucedem.
A USP acomodou-se ao governo e ao emaranhado estatal. A burocracia da universidade simula uma enorme repartição: sinuosa, morosa, ineficiente. Uma comunidade que enche a boca e fala de "autonomia" não nota, talvez por conveniência, as próprias amarras. A USP é um patrimônio da sociedade, e não do governo, paulista.
À autonomia, então. Que se rompa o cordão umbilical e que a USP se torne uma fundação pública de direito privado -livre também para buscar recursos e sustentar a formação e a investigação de alto nível. Já é tempo de despertar numa sociedade coalhada de milionários como a paulista a obrigação moral com o financiamento descompromissado do ensino superior. O imposto sobre heranças, tributo estadual hoje irrelevante, seria uma alavanca óbvia. Em vez da modesta alíquota, de 4% sobre o patrimônio repassado, poderíamos invocar a experiência americana e aplicar gravames elevados e crescentes, quanto maior a fortuna transferida. Doações a fundações universitárias seriam isentas.
Seria preciso alterar o texto da Carta para obter esse efeito -o imposto sobre herança foi convenientemente atenuado na lei pelo patrimonialismo brasileiro. A universidade também ficaria livre para cobrar mensalidades. Não faz sentido dispensar a contribuição de famílias que, por anos a fio, foram capazes de arcar com anuidades de R$ 20 mil no ensino básico. Um sistema de descontos e bolsas para quem não pudesse pagar seria, ainda, outra fonte de atração de doações à universidade.

vinicius.mota@grupofolha.com.br


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