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VINICIUS MOTA
USP, 75
SÃO PAULO - É crônico, e não dramático, o mal que acomete a Universidade de São Paulo aos 75 anos
de existência. Seu prestígio e seu
peso acadêmico não estão sob
ameaça iminente. Mas um desperdício de potencial ali se acumula
ano após ano, enquanto gerações de
dirigentes universitários cada vez
mais limitados se sucedem.
A USP acomodou-se ao governo e
ao emaranhado estatal. A burocracia da universidade simula uma
enorme repartição: sinuosa, morosa, ineficiente. Uma comunidade
que enche a boca e fala de "autonomia" não nota, talvez por conveniência, as próprias amarras. A USP
é um patrimônio da sociedade, e
não do governo, paulista.
À autonomia, então. Que se rompa o cordão umbilical e que a USP se
torne uma fundação pública de direito privado -livre também para
buscar recursos e sustentar a formação e a investigação de alto nível.
Já é tempo de despertar numa sociedade coalhada de milionários como a paulista a obrigação moral
com o financiamento descompromissado do ensino superior.
O imposto sobre heranças, tributo estadual hoje irrelevante, seria
uma alavanca óbvia. Em vez da modesta alíquota, de 4% sobre o patrimônio repassado, poderíamos invocar a experiência americana e
aplicar gravames elevados e crescentes, quanto maior a fortuna
transferida. Doações a fundações
universitárias seriam isentas.
Seria preciso alterar o texto da
Carta para obter esse efeito -o imposto sobre herança foi convenientemente atenuado na lei pelo patrimonialismo brasileiro.
A universidade também ficaria livre para cobrar mensalidades. Não
faz sentido dispensar a contribuição de famílias que, por anos a fio,
foram capazes de arcar com anuidades de R$ 20 mil no ensino básico. Um sistema de descontos e bolsas para quem não pudesse pagar
seria, ainda, outra fonte de atração
de doações à universidade.
vinicius.mota@grupofolha.com.br
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