São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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Autonomia ou anarquia?

A RECEITA para o fracasso na educação o Estado de São Paulo já experimentou. Ela inclui uma autonomia curricular desmedida e um sistema que permite a professores faltar quando bem entenderem e pular quase livremente de escola em escola. Tempere-se tudo com um mecanismo mal implantado de progressão continuada, que acabou se tornando um regime de aprovação automática, e os péssimos resultados obtidos pela rede pública do Estado nas avaliações não constituirão surpresa.
O consolo que fica é que a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, está tomando medidas para mudar o "statu quo", como se pode depreender da entrevista que concedeu à Folha.
A mais recente delas é a introdução de um currículo comum acompanhado de apostilas que indicam aos professores -e a seus eventuais substitutos- o que eles devem ensinar em cada aula e que conhecimentos depois cobrar dos alunos.
A autonomia didática foi uma espécie de conto-do-vigário que um segmento da pedagogia moderna nos impingiu. Para dar certo, ela pressupõe a concorrência de educadores altamente capacitados e plenamente envolvidos com alunos verdadeiramente interessados. E nada disso existe na rede pública.
Outro eixo em que mudanças se fazem necessárias é o da estabilidade do quadro de professores. É inadmissível que, nem bem iniciado o ano letivo, 45 mil dos 250 mil docentes já tenham mudado de escola. Isso sem mencionar as faltas. Elas chegam a 30 mil por dia -uma taxa de absenteísmo de 13%, contra menos de 1% na rede privada.
A concessão de bônus salariais para as escolas que cumprirem metas de desempenho é um passo para fixar o professor no estabelecimento, mas é preciso mais. É o caso de rever a legislação que permite privilégios como o das faltas impunes aos funcionários.
É preciso aqui coragem para enfrentar o lobby dos sindicatos e restabelecer o básico: o professor precisa estar presente e saber o que ensinar. Sem isso, todo o resto é empulhação.


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