São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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CLAUDIA ANTUNES

A opção brasileira

RIO DE JANEIRO - O Brasil não pode aspirar a ter um papel global para reproduzir o comportamento intervencionista dos EUA e das antigas metrópoles europeias ou, no outro extremo, a política de olhos fechados para assuntos internos da China, a potência do século 21.
Essa sutileza é ignorada por gente que, aqui, propõe um alinhamento extemporâneo com o "Ocidente" ou uma atitude agressiva de defesa dos interesses econômicos nacionais na América do Sul.
Mas ela é bem captada por setores que, no Oriente Médio, reivindicam abertura política e um modelo de crescimento mais equânime.
Os ativistas iranianos dos direitos humanos, por exemplo, pedem que o governo Dilma condene a repressão em Teerã nas votações na ONU. Mas não querem que Brasília rompa com o regime islâmico: acham que a mediação brasileira pode ajudar a salvar a vida de presos e perseguidos.
Para líderes das nações rebeladas, o Brasil é um igual e ao mesmo tempo indicador de um futuro potencial: um país em desenvolvimento que, em democracia, tenta construir desde a Carta de 1988 uma rede de proteção social cuja ausência foi um dos detonadores das insurreições atuais.
O Brasil expande sua penetração econômica, pelo comércio e a ação de multinacionais. Mas os interesses de longo prazo do Estado e os requerimentos das empresas nem sempre coincidem. Nos vizinhos, investimentos brasileiros costumam ser saudados pelos governos, mas também provocam resistência de sindicatos e ambientalistas.
País sem projeção militar, e que nisso não pode pretender equiparar-se a grandes potências, sob o risco de romper a confiança regional e trocar comida por canhões, o Brasil está fadado ao poder brando. Seus trunfos são o mercado interno, os recursos naturais escassos em outras partes e o sistema democrático. É sobre eles que a diplomacia deve equilibrar-se.


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