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ELIANE CANTANHÊDE
O totem da impunidade
BRASÍLIA - Justiça se faça aos
maus políticos brasileiros: eles não
são nada modestos. Afora o Severino Cavalcanti, escorraçado da presidência da Câmara porque recebia
propina de, sei lá, uns R$ 2 mil por
mês do restaurante, os encrencados
não querem saber de merreca.
Vejamos o deputado, ex-prefeito
e ex-governador Paulo Maluf. Numa única conta no exterior, no Safra National Bank da 5ª Avenida de
Nova York, ele tinha US$ 11,7 milhões em depósitos de 1998, justamente, ora, ora, quando era prefeito
de São Paulo e tocava a obra da então avenida Água Espraiada.
Vejamos agora o empresário Fernando Sarney, que vem de uma das
mais conhecidas famílias políticas
brasileiras. Só numa das suas aparentemente muitas contas no exterior, a da plácida e liberal Suíça, ele
tinha US$ 13 milhões.
Maluf vive às voltas com a Justiça
e as suspeitas no Brasil há três décadas, e não acontece nada. Faltou
combinar com a Interpol, que o colocou na sua "lista vermelha" de
procurados mundo afora. Significa
que Maluf pode circular à vontade e
em grande estilo no Brasil, mas não
pode botar os pés em 181 outros países. O risco é ir em cana.
Os Sarney mandam no Maranhão
lá se vão uns 50 anos. O resultado é
o pior IDH e os piores desempenhos de alunos em matemática e
em português do país, mas Lula se
atirou de cabeça na operação para
manter o patriarca na presidência
do Senado. Faltou combinar com a
PF, a Justiça e o governo suíço
-que bloqueou a conta milionária e
ilegal justamente quando ela tentava voar sorrateiramente para o paraíso fiscal de Liechtenstein.
Você imagina o que sejam US$
11,7 milhões ou US$ 13 milhões? Seriam fundamentais para milhares
de vidas brasileiras, mas uma pessoa ou uma família não conseguem
sequer gastar em gerações. São como um totem, o totem dinheiro,
com tudo o que atrai de poder, de
endeusamento.
Ou seja: um desvio patológico alimentado pela impunidade.
elianec@uol.com.br
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