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JOSÉ SARNEY
Jornal x internet
A GRANDE DISCUSSÃO hoje
no mundo da comunicação
é saber quando a internet
matará de vez o jornal escrito em
papel, na forma convencional que
conhecemos. O professor de jornalismo Philip Meyer, citado por José
Luís Barberia ("El País"), depois de
examinar o fechamento de jornais,
a diminuição de leitores, a migração de anúncios para a web, profetizou a data de outubro de 2044 para o desaparecimento do último
leitor de jornal.
Eu, por meu lado, concordo com
Elio Gaspari, que há alguns anos
afirmou que o livro e o jornal jamais acabarão. Eles resistirão às
novas tecnologias. Mas, acrescento, com algumas mudanças importantes. Bill Keller, do "New York
Times", talvez tenha sintetizado
essas mudanças com o conceito de
"união objetiva": a sobrevivência
do jornal está em ser sério, pensar
na sociedade, alicerçar sua credibilidade na precisão da informação,
deixando de lado velocidade e sensação, terreno em que não tem como competir com as outras mídias,
principalmente a internet.
A vitória do jornal será o bom
jornalismo, bem feito, com grandes
jornalistas, sobre o mau jornalismo
de profissionais medíocres e conteúdo duvidoso ou irresponsável.
Esse será o embate, menos tecnológico e mais de recursos humanos.
A diferenciação entre o internauta
descompromissado e o jornalista
sério. Entre o jornalismo de sensação e em tempo real e a análise da
notícia, bem construída. Isso também pode se fazer na internet, mas,
se o jornal não fizer melhor, se não
morrer, será mídia marginal.
Fiquei espantado na semana
passada quando vi uma pesquisa
política e, pela primeira vez nas
respostas, como as pessoas conhecem os fatos, aparece a web. No
único Estado que tem uma população rural de 40%, o Maranhão, dá
TV, imbatível, 80%, mas internet,
4,3%. Ora, se começa assim seu alcance, o que virá depois?
O problema da internet é que o
volume de informação que ela nos
oferece é tão grande que é impossível saber onde está a verdade. Mas,
se "não foi a internet" que inventou
a mentira, tornou-se difícil viver
tendo que procurar onde está a
verdade. Hoje os acessos a alguns
sites e blogs, a algumas "comunidades" são muito maiores que a tiragem dos grandes jornais.
Chateaubriand dizia que os jornais não morrem de enfarte fulminante, mas de doenças que no mínimo levam dez anos. Uma delas é
a política, outra, a idiossincrasia.
Jornais políticos perdem leitores e
a credibilidade; os que têm idiossincrasias com pessoas e escolhem
inimigos para bajular também contraem o vírus da morte.
Finalmente, como o rádio e a TV
não mataram o jornal, a internet
não o matará. Só quem pode matá-lo é ele mesmo, querendo ser internet ou fazendo mau jornalismo.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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