São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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ERRO DE AVALIAÇÃO

Atualmente a democracia não goza de muito prestígio na América Latina. Estudo realizado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostra que a maior parte da população latino-americana apoiaria um governo autoritário, desde que com ele se resolvessem os problemas econômicos de seus respectivos países.
Os números obtidos em pesquisa que envolveu a população de 18 nações -incluindo o Brasil- indicam que a maioria dos latino-americanos considera o desenvolvimento econômico preferível aos benefícios políticos da democracia. Julgam, além disso, que o regime democrático não resolve os problemas de seus países. O estudo indica que se frustraram as esperanças de que a instituição da democracia fosse acompanhada pela superação do subdesenvolvimento e das desigualdades que historicamente caracterizam a região.
De fato, os índices de desemprego, os indicadores de pobreza e o desnível de renda relativos aos países latino-americanos ainda são escandalosos. A ONU estima, por exemplo, que até o ano passado 43,9% da população latino-americana vivia abaixo da linha de pobreza. Em 2002, o índice de desemprego médio regional era de 9,2%.
É inquietante constatar que nesse contexto ganha força a opinião, marcada por um pragmatismo extremado, de que, em troca de prosperidade econômica não seria mau negócio abrir mão da democracia.
O grande risco que salta da pesquisa é avaliar a democracia não por aquilo que ela é e representa em termos de sistema político, de direitos e garantias, mas apenas como mais uma fórmula para promover o crescimento da economia. E daí inferir incorretamente que num regime de liberdades não encontramos as condições para superar nossas conhecidas dificuldades econômicas.


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