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O plano e os mestres
Congresso deve melhorar PDE; exame certificador para professores é boa idéia, mas não vinculado ao piso de R$ 850
O PLANO de Desenvolvimento da Educação
(PDE) teve sua apresentação formal e repetiu a boa aceitação obtida
quando da divulgação de suas linhas gerais, no mês passado. Todos parecem de acordo com o foco no ensino básico (fundamental e médio) e com o imperativo
de estabelecer metas e cobrar resultados, como disse o presidente da República na cerimônia.
Lula reeditou suas hipérboles,
como ao qualificar o PDE de
"plano mais abrangente já concebido neste país para melhorar
a qualidade do sistema público".
Folclore à parte, captou e exprimiu o sentido da crescente reação social à falência do ensino ao
afirmar que o plano objetiva "a
primazia do talento sobre a origem social e a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar".
Esse é o princípio fundamental
de um sistema educacional republicano: garantir a igualdade de
oportunidades. O governo federal mostrou possuir confiança de
que seu PDE traz instrumentos
adequados para realizá-lo ao
submeter o plano ao Congresso
na forma de projetos de lei, e não
de medidas provisórias.
O presidente Lula manifestou
apoio às metas básicas do Compromisso Todos pela Educação,
encampadas também por esta
Folha no editorial "O básico em
educação" (22/4). Elas estão sintetizadas no objetivo de, até o
ano 2022, elevar de 3,8 para 6 o
Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb) no plano
nacional.
Uma novidade surgida entre o
esboço de março e o plano de
agora foi a destinação de um
acréscimo de 50% nas verbas do
Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE) para premiar os
estabelecimentos públicos de
ensino que melhorarem seu desempenho. O objetivo coincide
com uma das cinco metas adicionais propostas pelo jornal.
Não se esperam grandes dificuldades para aprovar no Congresso os projetos de lei do PDE,
diante da convergência suprapartidária que se observa. Os
parlamentares podem e devem,
no entanto, aperfeiçoá-lo no que
se fizer necessário. O deputado
federal e ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza
(PSDB-SP), por exemplo, propõe
condicionar o pagamento do piso de R$ 850 previsto no PDE à
realização de um exame de certificação pelos professores.
O princípio de premiar por
mérito e exigir contrapartida dos
mestres está correto. É duvidoso, contudo, que tal cobrança de
desempenho mínimo dos professores deva ser vinculada à
concessão do piso (a ser integralizado por prefeituras e governos
estaduais em três anos).
Como o nome diz, trata-se de
uma remuneração mínima para
quem entra na carreira, de maneira a torná-la atraente para
quadros mais qualificados. Cerca
de 40% dos professores de ensino básico ganham menos que esse valor, que já é inferior ao de
uma bolsa de mestrado do CNPq
ou da Capes (R$ 940). A prova
certificadora é uma boa idéia,
mas faria mais sentido usá-la como pré-requisito para a progressão em carreiras estruturadas.
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