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CLÓVIS ROSSI
Educação e água benta
PARIS - O elementar bom senso
indica que o recém-lançado Plano
de Desenvolvimento da Educação
vai no bom caminho. Contam ainda
os fatos de que o ministro da Educação, Fernando Haddad, é do ramo e
sua gestão não tem merecido críticas, pelo menos não estridentes como as que atingem quase todos os
setores da administração federal.
Mas aí leio na Folha que dois dos
antecessores de Haddad, igualmente do ramo, têm avaliações opostas.
O tucano Paulo Renato elogia a parte relativa ao ensino básico e diz
que é "um verdadeiro plano". Já
Cristovam Buarque (PDT) critica o
pedaço que Paulo Renato elogiou.
Se especialistas conseguem ver
azul onde outro enxerga amarelo,
ou vice-versa, fica muito difícil para
o resto do público, na grande maioria leigo, entender o que é e para
que serve o PDE.
De minha parte, a principal objeção não é sobre o plano em si, mas
diz respeito ao controle que tem
que haver sobre as prefeituras que
terão a maior responsabilidade na
sua execução.
Em um país em que o trambique
se tornou esporte nacional, que garantia pode haver de que os prefeitos não falsificarão resultados ou
não fabricarão bons alunos para receber o R$ 1 bilhão que irá para os
municípios com piores indicadores
educacionais?
Volto à questão que me parece a
chave da crise brasileira: o poder
público deixou de ser público, em
todas as suas vertentes, e gira em
torno dos interesses de seus ocupantes ocasionais ou semi-permanentes (há famílias que estão no
poder, estadual ou municipal, há
uns 500 anos).
Se tem gente que frauda até o
Bolsa-Família, para embolsar a miséria de no máximo R$ 90, o que esperar quando o valor é mais suculento? Tomara que me engane, mas
precaução e água benta, muita água
benta, aliás, são essenciais no Brasil
quando se trata de planos e dinheiro públicos.
crossi@uol.com.br
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