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PLÍNIO FRAGA
À moda albanesa
COM A GREVE de transportes
públicos convocada pelas
centrais sindicais para defender os direitos dos trabalhadores, o jovem jornalista trabalhador,
sem dinheiro para o táxi, chegou
muito tarde, mas muito tarde mesmo, à redação. Os jornais hoje fecham suas edições cedo, e pouco
depois da meia-noite só havia meia
dúzia de repórteres e redatores -e
também algumas almas penadas.
O jovem jornalista se assustou.
Mais com os repórteres e redatores do que com as almas penadas;
com estas até conversou. Tarso de
Castro aconselhou o jovem jornalista a ir para o bar, porque notícia
não havia mais. Atordoado, o jovem jornalista pôs-se a caminho,
mas deparou com I.F. Stone -outra alma que andava por ali, sabe-se lá por quê.
Astuto, o jovem repórter pediu
ao jornalista americano, morto em
1989, conselho que lhe fosse valioso por toda a carreira. "Os governos mentem", respondeu Stone,
evanescente. "E os governantes
que querem se perpetuar -que são
todos eles- mentem muito mais."
Esses são parágrafos de ficção.
Seria sorte de principiante um jovem jornalista, se encontrasse, reconhecer e dar ouvidos a Isador
Feinstein Stone, formado em filosofia e "jornalista radical".
Se santa Clara é a padroeira da
televisão, I.F. Stone tem de ser elevado a padroeiro dos blogueiros.
Em 1953, criou seu próprio jornal
político, "I.F. Stone's Weekly", um
panfleto solitário, como um blog,
que chegou a ter 70 mil assinaturas
e com o qual desafiou presidentes
durante 18 anos, até fechá-lo, em
1971. Só deixou de escrever ao
morrer, em 1989, mas sem precisar
ter se corrigido: os governos continuavam mentindo.
Anteontem, o presidente do PT,
Ricardo Berzoini, defendeu que é
preciso controlar o "poder dos
meios de comunicação no processo eleitoral". Teve o apoio do deputado federal José Genoino, também ex-presidente do PT, que alegou que "algumas instituições encarnam o bem e fazem um julgamento preconceituoso e elitista do
que consideram o mal, numa tentativa de tirar-lhe a legitimidade
política".
Berzoini e Genoino reavivam assim o fantasma do "controle social
da mídia". Para os dois, imprensa
boa deve ser a da Albânia. Como se
sabe, jornalismo à moda albanesa,
sutilmente apregoado pelos petistas, tem lado e mesmo lado -outro, só no paredão.
No fundo, são pífios seguidores
do general Costa e Silva (outro fantasma), que ao menos tinha a virtude da sinceridade ao se dirigir a
uma nobre dona de jornal: "Não é
crítica construtiva o que quero. É
elogio mesmo".
Os fantasmas, como provam
Berzoini e Genoino, estão à solta e
ainda se divertem.
PLÍNIO FRAGA é coordenador da Sucursal do Rio.
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