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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Ciro Gomes: modos de usar
SÃO PAULO - É compreensível
que os petistas procurem desqualificar as palavras de Ciro Gomes invocando a sua incoerência. O político que pretende falar em nome da
moralidade, que reveste suas posições com verniz ideológico, não
passa de um oportunista. Espalhar
essa versão parece ser a melhor maneira de exorcizar a frase: "Serra é
mais preparado, mais legítimo e
mais capaz do que Dilma Rousseff".
Muitos comentários a respeito da
entrevista de Ciro seguiram essa
mesma linha. Seria apenas mais
uma do homem-bomba. Seus ataques seriam apenas fogos de artifício. Afinal, Ciro não merece crédito.
Mas não é incrível que o carimbo na
testa tenha surgido justamente
quando ele resolveu abrir a boca
contra a candidata de Lula?
Enquanto o alvo era Serra (e é improvável que deixe de ser), Ciro parecia cumprir um papel. Era destemido ou, no máximo, uma espécie
de "menino maluquinho", a quem
se tolerava apesar dos exageros.
Eis que ele -humilhado pelo lulismo a que serviu- pretende dizer
o que de fato pensa sobre a amiga
Dilma. Pronto. Tornou-se o homem-maionese, um cascateiro, o
vulcãozinho que é preciso isolar.
Dois pesos, duas medidas.
Ninguém deve tomar a palavra de
Ciro pelo valor de face, inclusive
porque ele é instável. Mas também
não se deve agora transformar o
que ele diz em moeda podre, sob o
risco de deixar escapar o principal:
a novidade não está no no clichê da
"metralhadora giratória", mas no
fato de que, contrariado, o aliado de
peso lançou contra Dilma a principal crítica que lhe faz a oposição.
Que autoridade tem Ciro? Pelo
menos a de quem conviveu com Lula e Dilma de perto, anos a fio, inclusive na crise do mensalão.
O impacto das suas palavras sobre a campanha talvez seja pífio,
talvez não. Mas elas apanham Dilma num momento delicado. Há um
mês, Serra era visto como um candidato hesitante e o PSDB parecia
um ninho de cobras. De alguma maneira, as coisas se inverteram nas
últimas semanas.
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