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MARINA SILVA
Represa
de erros
ESTÃO MAIS do que evidentes
a complexidade e os riscos envolvidos na construção da
usina hidrelétrica de Belo Monte
no rio Xingu, no Pará.
Erros há 20 anos represados, sobram dúvidas e incertezas sobre a
viabilidade econômica e a extensão
dos impactos socioambientais do
empreendimento.
Apesar de todas as manifestações em contrário, o governo se
mantém indiferente. Fez-se o leilão semana passada e anunciou-se
um vencedor, apesar da insegurança jurídica do processo e a fragilidade dos arranjos societários de última hora. Vê-se o direcionamento
de todos os instrumentos de políticas públicas para viabilizar um
projeto estrategicamente ruim, caro e de altíssimo risco socioambiental.
Enquanto isso, pouco se faz para
reduzir perdas da ordem de 15%
em energia no país, o equivalente a
três vezes a capacidade média de
Belo Monte. E o processo em curso
aponta mais desperdício: Belo
Monte terá uma produção energética efetiva bem menor do que sua
capacidade total -4.428 MW, em
função do regime hídrico do rio e
da configuração do projeto, e não
os 11.223 MW anunciados.
Surpreendem também as condições à disposição dos interessados
em comercializar a energia gerada
pelo rio Xingu. Tem-se R$ 13,5 bilhões em crédito subsidiado pelo
BNDES, com prazo de 30 anos para
pagamento, a juros de 4% ao ano.
Isenção de impostos sobre os lucros, o comprometimento do capital de empresas estatais e de fundos de pensão e, de quebra, o absurdo comprometimento de licenciamento ambiental com prazo
preestabelecido para a obra começar já em setembro.
Mesmo assim, as duas empresas
privadas que melhor conheciam o
projeto não participaram do leilão.
Preferem a posição de contratadas
aos de investidoras, enquanto outras, vitoriosas, ameaçam desistir
dos benefícios aparentemente irrecusáveis. Imaginem se todas essas condições excepcionais fossem
para melhorias da eficiência do sistema elétrico e para redução da demanda por energia?
A política energética em curso é
manca: apoia-se apenas no aumento da oferta sem investir na diversificação, na conservação e na gestão
do mercado. Temos um sistema
com elevadas perdas por desvio,
manutenção precária e pouco incentivo para o uso de técnicas
construtivas de maior eficiência
energética.
Definitivamente precisamos expandir a oferta de energia, mas não
necessitamos, para isso, manter a
cultura do desperdício e comprometer o patrimônio ambiental e os
recursos do país, quando temos alternativas de geração.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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