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Coreia contra Coreia
Embora um conflito armado
não seja do interesse de nenhuma
das partes envolvidas na longeva
disputa entre as duas Coreias, são
imprevisíveis as consequências
da escalada de hostilidades entre
os dois países nos últimos dias.
Os primeiros movimentos sul-coreanos foram cautelosos. Após
ter um navio de guerra atacado
por torpedos, em março, o país
não respondeu de imediato ao que
se afigurava como o mais audacioso ato de hostilidade do vizinho
em mais de duas décadas.
Investigadores internacionais
foram chamados a avaliar o episódio -e determinaram, após longa
perícia, que um submarino norte-coreano havia sido o responsável
pelos disparos.
A prudência da Coreia do Sul e
de seu principal aliado, os EUA, é
compreensível. São preocupantes
as consequências de um conflito
aberto com o decrépito regime do
ditador comunista Kim Jong-il,
que realizou, nos últimos anos,
testes balísticos e nucleares.
Para os norte-americanos, que
ainda têm batalhas a travar no
Afeganistão e mantêm tropas no
Iraque, não faz sentido abrir uma
nova frente de combate na Ásia.
Há ainda o fato de que a capital
sul-coreana, Seul, fica próxima à
fronteira, e essa situação de vulnerabilidade desaconselha uma
aventura militar contra o norte.
Compelido a responder ao ataque, o governo sul-coreano suspendeu o que restava da política
de reaproximação com o país vizinho -intensificada na última década, mas já alvo de restrições na
Presidência do conservador Lee
Myung-bak. Cortou o comércio
com o norte da península e voltou
a classificar Pyongyang como o
seu "principal inimigo".
Em resposta, a Coreia do Norte
interrompeu comunicações com o
vizinho e expulsou sul-coreanos
do complexo industrial de Kaesong, mantido pelas duas nações
no território comunista. É um retrocesso a lamentar, já que interesses econômicos comuns e troca
de informações, por pequenos
que sejam, podem ajudar na prevenção de conflitos armados.
Nesse cenário em que os atores
envolvidos não são capazes de entender os movimentos e as intenções do rival, os processos de hostilidade mútua podem se tornar
incontroláveis.
Mesmo que o imbróglio não tenha consequências graves, ele
chama a atenção para o imprevisível desenlace da lenta derrocada
do regime comunista de Pyongyang, uma herança anacrônica
dos tempos da Guerra Fria.
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