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ELIANE CANTANHÊDE
"Falha humana"
BRASÍLIA - Bastou a Aeronáutica
intervir, afastando os líderes dos
controladores, para que os vôos e os
aeroportos voltassem ao normal
-ou seja, ao padrão de antes de 29
de setembro do ano passado, quando caiu o Boeing da Gol.
O que isso significa? Que os atrasos, os cancelamentos e a bagunça
nos aeroportos eram resultado de
"falha humana", não de "falha de
equipamentos". Ou seja: o caos aéreo não foi, ou não é, culpa de um
sistema aos frangalhos, mas de
quem opera esse sistema.
Esses nove meses de tumulto, porém, deixam uma cicatriz profunda
na imagem do sistema de controle
de tráfego aéreo do Brasil, que durante décadas foi elogiado como em
níveis de EUA e Europa e, em meses, passou a ser considerado um lixo. Vai ser mais fácil substituir controladores e consoles do que corrigir essa cicatriz.
E, apesar da comemoração na
FAB, é cedo para dar a questão como encerrada. Lula enfim admitiu
que militar é militar e usou sua decantada intuição para fazer o que a
maioria queria. Waldir Pires voltou
atrás na defesa dos controladores e
foi na onda de Lula e da FAB. Os líderes ficaram isolados, e o movimento está confuso e sem rumo.
Mas nunca é demais lembrar que
quem há menos de três meses teve
força e ousadia para parar o país
não vai desistir assim tão fácil.
A situação hoje está sob controle.
Convém, entretanto, que o governo
fique alerta, que as operações sigam
monitoradas e que sejam evitadas
surpresas a qualquer custo. Até
porque "surpresa", neste caso, pode
ter um sabor amargo e conseqüências dramáticas.
A intervenção de sexta-feira passada mostra que o governo, quando
quer, consegue. Se não conseguia,
era porque não queria. Agora é
aguardar as conclusões dos inquéritos policiais militares, anunciar um
plano de carreira justo para a categoria e aprender a lição: democracia, sim; "democratice", não.
elianec@uol.com.br
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