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MARCOS NOBRE
Para que
universidade
A CRISE nas universidades
públicas paulistas não é só
um problema regional. Seguindo a lógica desigual do desenvolvimento do país, São Paulo concentra hoje parte significativa da
produção científica nacional.
São universidades de elite certamente. Atendem a uma parcela
apenas da população que deseja
chegar ao ensino superior. Essa
mesma situação se reproduz no ensino superior público por todo o
país.
O que diferencia a situação das
universidades estaduais paulistas é
que elas têm autonomia não apenas didática e científica mas também financeira, mesmo que sustentada apenas por um decreto de
1989, e não por um dispositivo
constitucional. As estaduais paulistas custam caro: 9,57% do total
de ICMS arrecadado.
O problema é que universidade
de qualidade custa caro em qualquer lugar do mundo. (Se for esse o
parâmetro, as universidades paulistas saem bem em conta). E há estrangulamentos orçamentários visíveis a olho nu. As universidades
paulistas empenham algo como
90% do seu orçamento com folha
de pagamento. Não têm verba nem
sequer para a conservação adequada do próprio patrimônio, muito
menos para investir e continuar
aumentando significativamente a
oferta de novas vagas.
Os servidores das universidades
paulistas descontam 13% de seus
salários para aposentadoria, assistência médica pública e pensões.
Mas esses recursos não voltam para um sistema previdenciário próprio: as aposentadorias são pagas
com os recursos do orçamento das
universidades. E o comprometimento médio dos orçamentos com
pagamento de aposentadorias está
por volta de 25%.
As greves e manifestações recentes mostram que a crise é estrutural e tende a se agravar rapidamente. Mas mostram também que não
é possível resolver essa crise dentro dos limites das universidades
simplesmente. Os conflitos das últimas semanas indicam que as universidades começam a girar em falso, internalizando divisões que não
podem ser superadas somente por
negociações entre dirigentes, servidores e estudantes diretamente
envolvidos. A única saída para o
impasse atual é tornar essa crise
um problema de toda a sociedade.
As universidades paulistas custam caro demais? Precisam de
mais recursos para se expandir
mantendo o padrão atual? Devem
ser remodeladas segundo critérios
diferentes dos atuais? Não há como
responder positivamente a uma
dessas perguntas sem excluir as
demais. Não é uma tarefa fácil nem
são essas as únicas perguntas que
se pode fazer. Mas, se não forem
colocadas e respondidas, as universidades perdem sua razão de ser.
Não só em São Paulo.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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