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FERNANDO GABEIRA
Futuro do Senado
RIO DE JANEIRO - Após os escândalos das passagens, numa entrevista à revista "Época", previ que
o Congresso caminhava para um
grande desastre. De um lado, o
avanço inevitável da transparência;
de outro, um arranjo institucional
que não sobrevive a ela. E dirigido
por líderes com experiência de imprensa regional, quase sempre de
sua propriedade.
A vitória de Sarney, articulada
por Renan Calheiros, iria marcar o
fim de uma época, na qual, durante
alguns anos, eles reinaram. Um velho e experiente funcionário do Senado me diz agora que essa análise é
precária. E chama atenção para o
que houve no espaço interno, burocrático. No principio, eram 300
funcionários. Abria-se uma sessão
às 13h, que era encerrada às 14h. E
começava uma sessão extraordinária. Todos tinham direito a uma
gratificação e subiam para receber
o seu dinheiro em espécie.
Este processo dispendioso não
foi combatido pelos senadores. Ao
longo do tempo, fizeram milhares
de novas indicações. Assim criou-se
uma miríade de novas possibilidades de aumentar a renda. O que era
um sistema de um grupo virou um
processo de massas com 7.000 funcionários, número muito superior
às necessidades. Portanto, o problema não são apenas os senadores, ou
apenas os funcionários, mas o tipo
de aliança que construíram.
Como desatar esse nó num jogo
tenso, com tantas denúncias? A
transparência em si apenas revela e
intensifica a crise. Para que seja
vencida, é preciso uma ação articulada, ainda que levada pela minoria.
Numa batalha dessa dimensão,
quase ninguém sairá ileso. Mas os
ferimentos, certamente, compensarão o serviço que se presta ao país.
A tarefa existe. Não há santos?
Que a realizem os pecadores. A história registra vários casos. Daí um
discreto otimismo, mesmo com a
inferioridade numérica.
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