São Paulo, domingo, 26 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Editoriais editoriais@uol.com.br Encruzilhada saudita Apedrejamentos, açoites e amputações, para ficar apenas na letra "a", fazem parte, como se sabe, do amplo arsenal de opressão e horror de que dispõem os sistemas penais em países submetidos ao fundamentalismo islâmico. O Irã, a justo título, tem atraído desde 1979 as atenções do mundo para abusos cometidos em nome da fé. O símbolo mais recente é a sentença de apedrejamento emitida contra Sakineh Ashtiani, já castigada com 99 chibatadas pelo "crime" de adultério. Casos chocantes de brutalidade contra as mulheres também são comuns, todavia, na Arábia Saudita. Suas boas relações com o governo norte-americano só recentemente começam a passar por um exame mais crítico em razão disso. Em 2007, uma mulher vitimada por uma gangue de estupradores foi condenada a 200 açoites e seis anos de prisão: tinha ficado dentro de um carro ao lado de um homem de quem não era parente. O rei saudita concedeu-lhe indulto, embora insistisse na tese de que era justa a punição. Em depoimento de eloquente singeleza, publicado na Folha da última quarta-feira, Raniya Almahozi, de 24 anos, relatou seus problemas com a polícia saudita. Ela divulgou na internet um vídeo no qual aparecia dirigindo um carro. A prática é considerada afrontosa às leis islâmicas. Manal Al-Sharif, a líder do movimento que reivindica para as mulheres o simples direito de conduzir veículos na Arábia Saudita, ficou presa por nove dias em maio passado. Só veio a ser libertada sob condição de não falar à imprensa. O movimento das mulheres sauditas não dá mostras de diminuir. Incidindo sobre uma pequena faceta do imenso iceberg de opressão contra mulheres em parte do mundo islâmico, pode dar início a um processo lento, de conquistas graduais. Nada simboliza melhor, em todo caso, a contradição emergente numa sociedade que se moderniza nos padrões de consumo e de comunicação, enquanto um grupo restrito de homens se aferra aos poderes que lhes garante um sistema baseado no preconceito, no obscurantismo e no terror. Texto Anterior: Editoriais: Recuperação anêmica Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A vida começa aos 80 Índice | Comunicar Erros

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