São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
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RUÍDOS NO CASO BRASIL

Depois do susto e do alívio com o desenrolar da crise econômica no Brasil, houve uma fase de lua-de-mel com os mercados. Mas a semana passada pode ter sido mais um marco, talvez o início de uma nova inquietação com relação à indispensável correção de desequilíbrios fundamentais na economia brasileira.
O primeiro sinal veio com a revisão para baixo da meta de superávit comercial negociada com o FMI.
Veio então a decisão do Banco Central de reduzir os juros em percentual inferior ao esperado pelo mercado.
Logo depois, outra notícia desfavorável: as contas do Tesouro Nacional, BC e Previdência Social geraram um déficit de R$ 796 milhões em maio. É um déficit primário, ou seja, não inclui as despesas com juros.
O desequilíbrio é mais que o dobro do registrado em maio do ano passado. Tais números tornam mais difícil a realização da meta acertada com o FMI (superávit primário, em 1999, de 3,1% em todo o setor público).
Num cenário de cautela entre os investidores e de provável alta nas taxas de juros nos EUA, não é bom que surjam evidências negativas sobre as contas públicas e as contas externas.
Os ruídos na economia são causados também por atritos judiciais. Cresce o número de liminares contra a CPMF. Tudo indica que a divergência possivelmente será dirimida apenas pelo Supremo Tribunal Federal.
A cobrança da Cofins também depara com liminares contra o aumento da alíquota e a mudança na base. É outra questão para o STF.
O déficit total da Previdência passou de R$ 33,4 bilhões em 97 para R$ 41 bilhões em 98, devendo atingir R$ 46 bilhões em 99. É outro indicador de desequilíbrio estrutural que incomoda os mercados financeiros.
A economia não pode crescer muito, para não tornar ainda mais improvável o superávit no comércio exterior. Mas o crescimento baixo é um inimigo visceral da arrecadação e do ajuste nas contas da Previdência.
Tantos ruídos acabam afetando as expectativas nos mercados financeiros. Resta esperar que a cacofonia não traga outra crise de confiança.


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