São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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CENÁRIO DIFÍCIL

As intervenções do Banco Central -venda diária de US$ 50 milhões, operações de swap cambial e leilões de linha externa- não vêm conseguindo frear a disparada do dólar. A cotação chegou a romper a barreira dos R$ 3. A taxa de risco do país, medida pelo EMBI+ (Emerging Markets Bonds Index) do JP Morgan, ultrapassou 1.800 pontos.
A instabilidade externa vai cobrando seu preço. O valor de mercado das empresas listadas na Bovespa recuou US$ 50 bilhões apenas neste ano. A dívida líquida do setor público atingiu R$ 750 bilhões (58,6% do PIB). A desvalorização cambial em junho resultou na expansão de R$ 41,8 bilhões na dívida, pois um terço dela está atrelado ao câmbio.
A economia perde dinamismo. O sistema de crédito está travado. Segundo o BC, a demanda e a oferta de crédito das empresas foram concentradas em transações de curto prazo (desconto de duplicatas ou notas promissórias). O mercado de trabalho deteriorou. Cresceu a taxa de desemprego; a renda do trabalho caiu pelo 17º mês consecutivo e aumentou a informalidade na economia.
No âmbito externo, a crise de confiança nos mercados de capitais aumenta a aversão ao risco dos países emergentes, que encontram dificuldades para refinanciar suas dívidas.
O presidente do BC, Armínio Fraga, sugeriu outro acordo com o FMI, com a contratação de novos recursos. O acordo pressupõe, ao menos em tese, que os candidatos devam assinar os compromissos assumidos, pois o estatuto do FMI dificulta novos empréstimos em fins de mandato. A entrada de novos recursos seria bem-vinda, mas o BC poderia também utilizar outros instrumentos de âmbito doméstico para tentar conter a especulação. Por exemplo, elevar os depósitos compulsórios ou reduzir os compromissos em moeda estrangeira nos bancos.
A longo prazo, o governo não deve perder de vista que a saída para a redução da vulnerabilidade externa é a política de substituição de importação e um programa ativo de aumento das exportações.


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