|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Os eleitos pelo BNDES
Participações acionárias do banco se concentram sobre grandes empresas e duram anos, o que limita apoio para quem mais precisa de capital
A disposição do BNDES de entrar com R$ 4,5 bilhões na malograda fusão Pão de Açúcar-Carrefour, por meio de seu braço de participações, a BNDESPar, representa um bom exemplo das duvidosas decisões autárquicas do banco
federal de desenvolvimento. Só ao
evidenciar-se a precipitação, pois
não havia sequer acordo entre os
acionistas, sua cúpula retirou o
apoio à polêmica transação.
O episódio deve servir para uma
apreciação crítica dos desígnios
da instituição. Persegue-se ali,
com coerência, a política de eleger
e apoiar grupos nacionais em setores tidos como estratégicos, para que adquiram musculatura nos
mercados doméstico e mundial.
Se na gestão FHC o BNDES assumia a proa da desestatização,
sob domínio petista se concentrou
na criação de conglomerados. Não
é política em si condenável, mas
deveria subordinar o emprego de
dinheiro público e financiamento
subsidiado a áreas com grande
potencial tecnológico ou de geração de empregos em que a iniciativa privada não entra sozinha.
Certamente isso não se aplica
bem a setores baseados em commodities (como frigoríficos) e varejo (como a fusão referida atrás).
A BNDESPar deveria atuar com
escopo ainda mais restrito. Segundo a própria entidade, seu mandato é apoiar o processo de capitalização e o desenvolvimento de empresas nacionais "principalmente
através de participações de caráter minoritário e transitório, buscando oferecer apoio financeiro
sob a forma de capital de risco".
Ora, reportagem de domingo na
Folha mostrou que esses investimentos diretos em ações têm muito pouco de transitório. O tempo
médio até a venda da participação
fica entre cinco e sete anos. Mas há
casos notáveis de permanência
mais longa, de mais de 14 anos.
Das 152 companhias em que a
subsidiária do banco aparecia como acionista em 2010, só 40 (cerca
de um quarto) eram pequenas e
médias empresas. Se o objetivo
primordial fosse fortalecer o mercado de capitais, apoiando quem
tem dificuldade de se financiar,
essas -e não as de grande porte-
deveriam ser os alvos do banco.
Próximo Texto: Editoriais: Terror norueguês
Índice | Comunicar Erros
|