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MARCELO BERABA
Frustrações
RIO DE JANEIRO - Acabo de ler "Morcegos Negros", do jornalista Lucas Figueiredo, e fico com uma forte
sensação de frustração. Não pelo livro, que é muito bom, mas pelo desfecho dos fatos que narra.
É raro, no país, um jornalista conseguir juntar tantas informações sobre um esquema criminoso como foi
conseguido no caso PC. O livro documenta abundantemente as relações
da máfia italiana e do narcotráfico
com Paulo César Farias.
As informações e provas colhidas
pela polícia e pela Justiça italianas
contra o esquema PC repassadas para a polícia brasileira são numerosíssimas. O livro mostra, no entanto, como foi lenta e criminosamente negligente a ação de vários policiais, procuradores e juízes.
O resultado é a frustração. Os remanescentes do esquema PC continuam ativos. É o caso, por exemplo,
do argentino Jorge Osvaldo La Salvia, um dos principais personagens
do esquema e, portanto, do livro.
La Salvia foi flagrado no início deste ano intermediando licitações na
Companhia Estadual de Habitação
(Cehab) do governo Garotinho. O
presidente da companhia era outro
collorido, Eduardo Cunha, também
personagem do livro de Lucas e afastado do cargo a contragosto.
E o próprio Collor aí está, límpido e
faceiro, como se nada tivesse acontecido, preparando-se para voltar ao
poder.
Por coincidência, acompanhamos
nestes últimos dias outros casos
igualmente frustrantes porque se encerram sem punições ou com punições brandas e sem que os esquemas
que os provocaram fossem devidamente desmantelados.
São os casos da bomba na OAB
(Rio, 1980, uma morte), do massacre
de Corumbiara (Rondônia, 1995, 11
mortes) e da Clínica Santa Genoveva
(Rio, 1996, 102 mortes).
Todos parecem comprovar que isso
aqui parece a casa-da-mãe-joana.
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