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CLÓVIS ROSSI
Dar posse a Lula
SÃO PAULO - Em vez de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, como cogitam alguns oposicionistas (poucos, é verdade), minha
sugestão para enfrentar a crise é a inversa: dar posse a Luiz Inácio Lula da
Silva como presidente da República,
com o pedido de desculpas pelo atraso de dois anos e meio com que ocorrerá a cerimônia.
O discurso de posse já está até pronto. É verdade que foi usado no dia 1º
de janeiro de 2003, quando um cidadão que parecia o Lula assumiu a
Presidência. Esse cidadão começou
dizendo o seguinte na sessão solene
do Congresso:
"Mudança. Esta é a palavra-chave.
Esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro" (outubro de 2002, se é que alguém se lembra que um certo Lula
ganhou a eleição).
Depois, o homem que fez o papel de
Lula na cerimônia ainda tascou:
"Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu estagnação, desemprego
e fome. Diante do fracasso de uma
cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das famílias e
das comunidades. Diante das ameaças à soberania nacional. Da precariedade avassaladora da segurança
pública. Do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens.
Diante do impasse econômico, social
e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar".
Como quase tudo o que "a sociedade" queria "mudar" não mudou e,
em alguns aspectos, até piorou, conclui-se inescapavelmente que o discurso da mudança não correspondeu
ao governo da mudança.
Seria, portanto, um bom castigo
obrigá-lo a começar a governar, ainda que tardiamente e, pior, a cumprir
o prometido na posse, se é que sabe
como fazê-lo. Ou então que diga que
até o discurso de posse não passava
de "bravata".
@ - crossi@uol.com.br
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