São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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MARCOS NOBRE

O efeito Lula

O ÚLTIMO Datafolha foi definitivo para convencer quem ainda tinha dúvidas sobre a importância e a eficácia do horário eleitoral no rádio e na TV.
Um dia antes da divulgação da pesquisa, em sua coluna no jornal "Valor Econômico", Maria Cristina Fernandes já havia mostrado que o eleitorado assiste à campanha na TV sobretudo para se informar.
Lembrou que a estréia da campanha televisiva teve audiência de 57%, superior à do "Jornal Nacional". Trouxe ainda a importante conclusão de um extenso levantamento do professor Luiz Lourenço: nos "municípios onde há horário eleitoral gratuito, o patamar de indecisos cai dez pontos percentuais com o início da programação"; onde não há, "o patamar de indefinidos permanece alto ao longo da campanha e só cai às vésperas das urnas".
Por que isso acontece? As campanhas perseguem os altos padrões técnicos da própria TV brasileira. E é bem provável que haja regozijo do eleitorado em ver poderosos se sujeitando a esses padrões para pedir votos. Uma vingança efêmera pelo descaso com que se trata a cidadania em todos os outros momentos da vida política.
Mas, ao contrário do que diz a lenda, ninguém confunde horário eleitoral com novela. Todo mundo sabe bem que é artifício. No início do horário eleitoral, o que se busca é aquela informação considerada essencial para decidir o voto. Pelo menos em um primeiro momento.
Olhando com atenção para as cidades pesquisadas, vê-se que a informação que fez a diferença foi a identificação de uma determinada candidatura com Lula.
O próprio Lula repetiu que não pretende participar das campanhas. Mas, se o apoio explícito de Lula a uma única candidatura foi a exceção, os saltos nas intenções de voto se explicam pela capacidade de determinadas candidaturas de convencer o eleitorado de que contam com seu apoio.
Isso mostra, em um primeiro momento, o acerto do cálculo eleitoral de Lula em estimular candidaturas unitárias da sua base. Essa unidade não foi alcançada principalmente porque a lógica dessas eleições municipais é já a do pós-Lula: uma tentativa de conseguir o melhor posicionamento possível para 2010. Daí a fragmentação e a divisão de forças nessas eleições, talvez só comparáveis àquelas anteriores à estabilização política do Plano Real.
Por outro lado, é razoável imaginar que o efeito Lula venha a se esgotar logo nesses primeiros dias de horário eleitoral. Depois desse primeiro empurrão federal, as campanhas devem tomar rumos muito mais locais. Mas uma boa largada é muitas vezes decisiva.

nobre.a2@uol.com.br


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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