São Paulo, quarta-feira, 26 de agosto de 2009

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ELVIRA LOBATO

Altar eletrônico

A ARQUIDIOCESE de Aparecida (SP) está em busca de uma emissora de televisão comercial para comprar. Vem tendo problemas com o governo, porque a TV Aparecida tem concessão de emissora educativa e não poderia veicular publicidade. Para acabar com a dor de cabeça, decidiu comprar uma emissora comercial.
A iniciativa da arquidiocese é parte de um contexto geral de avanço das igrejas sobre os meios de comunicação, especialmente o televisivo. E por que o interesse?
"A TV alcança um público muitas vezes maior que o rádio. Se o fiel não vem à igreja, temos que ir à casa dele", resume padre Cesar Moreira, diretor da TV Aparecida.
O avanço das igrejas na radiodifusão começou a partir do início dos anos 90, quando o bispo Edir Macedo começou a montar a Rede Record. Os católicos responderam com a Rede Vida em 1995, e já têm mais duas redes com cobertura em grande parte do território nacional: Canção Nova e Aparecida.
Igrejas evangélicas neopentecostais partiram para a compra de emissoras na segunda metade dos anos 90, durante as licitações públicas realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. É o caso da Renascer em Cristo e da Igreja Pentecostal Deus é Amor. A ocupação religiosa no setor se dá até pela compra de empresas de TV por assinatura.
Nem o governo tem um mapeamento claro da presença das igrejas na mídia, e vários fatores contribuem para essa falta de visibilidade. O principal motivo é que elas são proibidas legalmente de serem concessionárias de radiodifusão.
Para contornar a proibição, registram as emissoras em nome de pessoas físicas -dirigentes religiosos e seus parentes ou fiéis-, o que dificulta a comprovação do vínculo com as igrejas. No caso das emissoras educativas, são utilizadas fundações.
A própria Rede Vida é um exemplo disso. A concessão pertence ao empresário João Monteiro Barros Filho, de São José do Rio Preto (SP), mas a maior parte das estações retransmissoras, que levam o sinal da TV a todo o país, foi montada pelas dioceses, supostamente com recursos doados pelos fiéis.
É preciso haver transparência na atuação das igrejas na radiodifusão, por envolver concessões públicas e por ser um serviço de vital importância pra a sociedade. O tema deve merecer atenção da Conferência Nacional de Comunicação, convocada pelo governo Lula, que acontecerá no final do ano.
Se a sociedade concluir que não há mal em igrejas possuírem rádio e televisão, que se modifique a legislação. O que não dá para manter é o jogo de faz de conta.


ELVIRA LOBATO é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Delfim Netto.


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