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ELVIRA LOBATO
Altar eletrônico
A ARQUIDIOCESE de Aparecida (SP) está em busca de
uma emissora de televisão
comercial para comprar. Vem tendo problemas com o governo, porque a TV Aparecida tem concessão
de emissora educativa e não poderia veicular publicidade. Para acabar com a dor de cabeça, decidiu
comprar uma emissora comercial.
A iniciativa da arquidiocese é
parte de um contexto geral de
avanço das igrejas sobre os meios
de comunicação, especialmente o
televisivo. E por que o interesse?
"A TV alcança um público muitas vezes maior que o rádio. Se o fiel
não vem à igreja, temos que ir à casa dele", resume padre Cesar Moreira, diretor da TV Aparecida.
O avanço das igrejas na radiodifusão começou a partir do início
dos anos 90, quando o bispo Edir
Macedo começou a montar a Rede
Record. Os católicos responderam
com a Rede Vida em 1995, e já têm
mais duas redes com cobertura em
grande parte do território nacional: Canção Nova e Aparecida.
Igrejas evangélicas neopentecostais partiram para a compra de
emissoras na segunda metade dos
anos 90, durante as licitações públicas realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. É o caso
da Renascer em Cristo e da Igreja
Pentecostal Deus é Amor. A ocupação religiosa no setor se dá até pela
compra de empresas de TV por
assinatura.
Nem o governo tem um mapeamento claro da presença das igrejas na mídia, e vários fatores contribuem para essa falta de visibilidade. O principal motivo é que elas
são proibidas legalmente de serem
concessionárias de radiodifusão.
Para contornar a proibição, registram as emissoras em nome de
pessoas físicas -dirigentes religiosos e seus parentes ou fiéis-, o que
dificulta a comprovação do vínculo
com as igrejas. No caso das emissoras educativas, são utilizadas
fundações.
A própria Rede Vida é um exemplo disso. A concessão pertence ao
empresário João Monteiro Barros
Filho, de São José do Rio Preto
(SP), mas a maior parte das estações retransmissoras, que levam o
sinal da TV a todo o país, foi montada pelas dioceses, supostamente
com recursos doados pelos fiéis.
É preciso haver transparência na
atuação das igrejas na radiodifusão, por envolver concessões públicas e por ser um serviço de vital importância pra a sociedade. O tema
deve merecer atenção da Conferência Nacional de Comunicação,
convocada pelo governo Lula, que
acontecerá no final do ano.
Se a sociedade concluir que não
há mal em igrejas possuírem rádio
e televisão, que se modifique a legislação. O que não dá para manter
é o jogo de faz de conta.
ELVIRA LOBATO é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Delfim Netto.
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