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GOLPE NO BANESPA
Depois de quase cinco anos de intervenção no Banespa, o governo federal criou um impasse que poderá
provocar temíveis consequências financeiras, políticas e institucionais.
O imbróglio por enquanto apenas
cresce. Tende a se tornar cada vez
mais complexo. A privatização do
Banespa fica adiada por pelo menos
mais um ano. Faltam esclarecimentos, especialmente do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que aliás era o
presidente do Banco Central no ano,
1994, em que ocorreu a intervenção
no Banespa, na véspera da posse do
governador Mário Covas.
O BC já sabia da existência de questões de ordem jurídica relativas ao
provisionamento de recursos, pelo
banco, para aposentadorias de funcionários. Partiu do BC a consulta à
Receita sobre pendências fiscais relativas a esse provisionamento.
No entender da Receita, ao registrar
na sua contabilidade o provisionamento para aposentadorias como
uma despesa, o Banespa teria reduzido artificialmente o lucro tributável.
A autuação do banco seria justificada, na visão da Receita, como forma
de apenar essa suposta evasão.
Tecnicamente, há espaço para disputar o acerto desse entendimento.
Ainda assim, causa espanto, em primeiro lugar, que dois órgãos subordinados à Fazenda, o Banco Central e
a Receita Federal, tramitem questões
relativas ao Banespa, com toda a carga política e institucional desse banco, sem que o Ministério da Fazenda
queira, ou consiga, articular um foro
que preserve a consistência entre as
várias iniciativas. Principalmente
porque a privatização do Banespa seria uma das peças mais importantes
na reestruturação da dívida paulista.
Salta aos olhos a incapacidade de o
governo federal reunir sob um mesmo comando e sob uma mesma lógica aspectos de um problema flagrantemente interdependentes.
O episódio merece esclarecimentos, urgente. Por que a autuação foi
fixada nesses níveis? Como pôde a
administração federal proceder em
várias frentes, todas ligadas ao destino do Banespa, sem que houvesse
comunicação entre as várias áreas?
Por que apenas na véspera da privatização se produziu o imbróglio? Com
que base legal os sucessivos presidentes do Banespa, do Banco Central
e da Receita Federal, nos últimos
anos, toleraram o que apenas agora
se afigura como pendência jurídica
de grandes proporções?
O absurdo é tão grande que alguns
chegam mesmo a suspeitar que nem
o governo brasileiro seria capaz de
abrigar tanta irracionalidade. Ou seja, haveria interessados em complicar
a situação fiscal, financeira e política
do governo paulista, comprometendo a privatização do Banespa.
Diante de fatos e de suspeitas tão
graves, a prestação de esclarecimentos por parte das autoridades é inadiável. Afinal, se o Banespa está sendo golpeado, sofrem também a imagem externa do país, a credibilidade
do Ministério da Fazenda e dos órgãos a ele subordinados e, por fim,
mas não menos importante, a continuidade do processo de privatização.
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