São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

PAULO SKAF

Produzir, crescer, empregar

Responda depressa: por que o setor financeiro tem representação no poder e na formulação de políticas para o país, enquanto o setor produtivo se limita a seguir diretrizes de cuja elaboração não participou?
Isso não é uma crítica aos bancos nem ao governo. É uma reflexão que nós, do setor produtivo, temos de realizar, uma vez que por muito tempo aceitamos esse papel.
A superação desse quadro começa agora: a Fiesp está pronta a se articular com os parceiros econômicos (serviços, comércio, agricultura e trabalhadores) e políticos (parlamentares e governantes) e unir as pontas soltas num grande laço, numa imensa e patriótica parceria em favor da produção, do desenvolvimento, do emprego, do progresso; em favor, enfim, do Brasil.


A autoridade produtiva contribuirá para o desenvolvimento equilibrado do Brasil, sem o viés monetarista


Queremos ocupar nosso lugar na formulação das políticas nacionais. Os tempos em que o empresariado se isolava em seu bunker da avenida Paulista e gastava o tempo criticando as medidas já adotadas pelo governo são passados.
Os industriais paulistas hoje estão unidos para assegurar que a Fiesp desenvolva seu novo papel -uma entidade pró-ativa, de resultados palpáveis. As divisões dos mapas eleitorais estão superadas porque entendemos que só assim deixaremos de ser meros atores coadjuvantes.
A indústria de São Paulo, repito, quer estar no centro das decisões.
O resultado da histórica eleição da Fiesp, ocorrida no último dia 25 de agosto, mostra que nós, empresários, estamos prontos a participar, oferecendo idéias e projetos viáveis de desenvolvimento, mostrando propostas viáveis para a remoção de obstáculos à produção e ao emprego, articulando todos os setores da sociedade na ampliação dos investimentos, com juros e tributos que não sejam punitivos para quem trabalha e gera desenvolvimento; e equilibrando a autoridade monetária com a autoridade produtiva a ser implementada. Os longos, terríveis anos de inflação explicam a cautela governamental em temas polêmicos como juros e superávit primário. Os longos, terríveis anos de inflação explicam a preponderância da autoridade monetária em nosso país.
Mas já vivemos longos, terríveis anos de estagnação econômica. Há 20 anos o Brasil não sabe o que é crescer. Taxas minúsculas de aumento do produto interno bruto são comemoradas, bastando que superem por pequena margem o aumento populacional. Acostumamo-nos com baixas taxas de poupança interna e de investimento; aceitamos a degradação de nossa infra-estrutura.
Basta! É hora de dar ao desenvolvimento, ao progresso e ao emprego o mesmo tratamento que se dá à manutenção do valor da moeda. A repercussão das medidas de governo deve ser avaliada tanto do ponto de vista da inflação quanto do ponto de vista da produção. Não podemos esquecer as experiências históricas de outros países que mantiveram a moeda estável à custa do empobrecimento de seus povos.
Os pesos e contrapesos são uma invenção da democracia para evitar que a preponderância de um determinado setor sobre os demais prejudique a população como um todo. Precisamos de pesos e contrapesos na economia, pois, para o Brasil, é tão essencial manter a moeda estável quanto garantir empregos e esperança de uma vida melhor para sua população.
A autoridade produtiva contribuirá para o desenvolvimento equilibrado do Brasil, sem o viés monetarista. Sabemos que implementá-la não é uma coisa simples: exige consenso entre as forças da produção, sejam empresários, sejam trabalhadores, sejam autônomos. Costurar esse amplo consenso é a tarefa a que pretendo me dedicar desde o instante da posse na Fiesp.
Essa é uma questão-chave, que tem de ser resolvida. E resolvê-la, mais que uma atitude econômica, é um ato de patriotismo.

Paulo Antônio Skaf, 49, é o presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e toma posse amanhã.


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