São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Bóias-frilas
"O artigo de Robert Kurz publicado no Mais! de domingo passado ("O declínio da classe média') merece ser exibido em todos os murais de faculdade. Os estudantes precisam saber que a eles, depois de formados, restarão as funções de "diaristas intelectuais, trabalhadores baratos e empresários da miséria na figura de free-lance em mídias, universidades privadas, escritórios de advogados ou clínicas privadas". Ou, em bom português, "bóias-frilas". A propósito, parabéns a Luiz Repa pela tradução."
João Hélio de Moraes (São Paulo, SP)

Eletricidade
"Acompanhando "gatos" x "ratos" ("Painel do Leitor", 21/9 e 23/9), refleti que a única lição aprendida na época da ameaça de apagão de energia elétrica foi o fato de a maioria dos brasileiros ter começado a usar a eletricidade de maneira racional, sem esbanjar, como acontecia antes daquela ocorrência. Mas estamos pagando até hoje pela incompetência na venda de nossas estatais, pela falta de investimentos nos setores primordiais e pelo descaso, conluio e anuência das agências reguladoras e dos governos. Comparativamente, hoje, o consumidor, mesmo economizando e usando racionalmente a energia, tem um gasto muito maior (é só ver a fatura mensal) do que antes da ameaça de apagão. Os "ratos" com certeza seriam em muito menor número se fosse cobrada uma tarifa de acordo com o padrão de vida do povo brasileiro. Isso sim seria justiça social."
Arnaldo Comerlati (São Paulo, SP)

Ato médico
"Entendo o argumento apresentado pelo senhor Contardo Calligaris (Ilustrada, 23/9) contra a lei do ato médico e até o aprovo, mas receio que ele possa ser mal interpretado por quem não está totalmente a par da questão. O artigo passa a impressão de que o projeto de lei foi pensado para proteger os usuários dos "charlatões". Na verdade, essa lei transforma todo tipo de diagnóstico e prescrição terapêutica em prerrogativa médica e, com isso, cerceia a atuação de qualquer profissional de saúde não-médico. Não estamos falando de charlatanismo, mas de profissões da saúde regulamentadas, com cursos oficiais de graduação e de pós-graduação. Os médicos não querem "regulamentar" a sua área para prevenir agravos à saúde da população, mas, sim, "desregulamentar" todas as demais profissões de saúde de maneira que eles sejam "chefes" e que os demais profissionais (fisioterapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos, entre outros) sejam seus subordinados. O projeto de lei não é regulamentador, ele é apenas autoritário, corporativista e contrário aos interesses de saúde da população."
Alan Demanboro, fisioterapeuta, mestre em psicologia da saúde (Osasco, SP)

Judiciário
"Em relação aos textos sobre a greve do Judiciário paulista publicados recentemente no caderno Brasil, esclareço a população que continuamos em greve não por intransigência, mas, sim, porque, ano após ano, nossos direitos têm sido violado. A Carta Magna, em seu artigo 37, prevê o direito de revisão anual de nossos salários, e isso não vem ocorrendo. A nossa greve é moral e justa, porque temos dignidade. Não aceitamos que confisquem nossas férias, entre outros direitos. Peço desculpas à população pelos eventuais prejuízos que podemos estar causando. Infelizmente, a greve é o único instrumento de luta que temos."
Marlene Ribas, assistente social judiciária (São Paulo, SP)

Ouro
"Muito digna a atitude do elegante presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, de convidar, na Grécia, pessoalmente, o brioso e eficiente "Anjo do Vanderlei" para vir com a mulher dar um aperto de mão no herói olímpico (Esporte, 18/9). O reencontro solene do parrudo e fraterno Polyvios Kossivas com o nosso maratonista e medalhista Vanderlei Cordeiro de Lima -cujo talento, garra, idealismo, humildade e simpatia já o colocaram na história mundial- será, com certeza, outra página emocionante e inesquecível, que todos nesse globo gostarão de conferir. É de esperar, para ser justo, que Nuzman -ou o presidente Lula, em nome do Brasil- convoque o brilhante repórter Guilherme Roseguini, da Folha, autor da interessantíssima e legendária reportagem que viabilizou tal festa, para, no palácio, subir no lugar mais alto do pódio do jornalismo e receber a sua merecida medalha de ouro."
Hélio Selles Ribeiro (Guaratinguetá, SP)

Encontro marcado
"Arrecadação crescente, arrocho espartano, superávits primários recordes e taxas de juros sempre acima da capacidade de pagamento. É assim que se coloca uma nação a serviço da agiotagem. É assim que temos mais um encontro marcado com o desastre. Os agiotas, porém, não perdem o sono, pois vigorosos saldos comerciais dão fôlego à rapinagem. No mês de agosto, a saída de US$ 2,1 bilhões pelas contas CC5 não foi capaz de reverter a trajetória descendente da moeda americana."
Oswaldo Gonçalves Correa Júnior (Guarulhos, SP)

Campanha
"A campanha de rádio de Marta Suplicy da semana passada começou com uma chantagem vergonhosa. Informou que, nos primeiros dois anos de governo, FHC liberou pouca verba para São Paulo. E que a situação melhorou muito quando Lula assumiu. Até aí, é lamentável, mas assim foi. Mas ameaçar São Paulo com a descontinuidade de verbas federais caso Marta não ganhe... Desculpe, mas o nome disso é chantagem. É caso de polícia. Se eu votar em alguém que não é "amigo do rei", como ela é apresentada, sofrerei as conseqüências da falta de verbas federais? Agora não é mais só o fato de o PT ter "traído" sua história e sua trajetória de lutas. Agora eles estão implicitamente reeditando a Arena."
Shigueo Watanabe Júnior (São Paulo, SP)

Voto
"Muito se fala em voto consciente neste país: a CNBB, as ONGs, as propagandas do TSE, a Transparência Brasil etc. Infelizmente, tais campanhas e propagandas se restringem a informações genéricas, que apenas induzem os eleitores a votar de fato. Voto consciente só ocorreria se a maioria dos eleitores conhecesse as regras do sistema de representação proporcional, destinado às candidaturas aos órgãos legislativos. É impossível o exercício pleno dos direitos políticos se há o desconhecimento dessas regras por quem vota diretamente (sem saber) nos partidos e coligações -para somente em um segundo momento contribuir com sua vontade em relação ao candidato em si mesmo. É uma covardia para com os brasileiros que a mídia não divulgue essa imperiosa informação. Democracia não é se servir da ignorância da população para fazê-la pensar que está votando de forma consciente num candidato."
Marcelo Alexandre dos Santos (Uberlândia, MG)


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