São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Estimulantes do PIB

Em vez de aplicar artifícios para elevar atividade no curto prazo, governo deveria atacar distorções, como o juro alto, que atrasam o país

Não é impossível que o Brasil cresça em torno de 4% neste ano e no próximo, como é o desejo da presidente. Mas é possível que tal desempenho não seja adequado, se consideradas as perspectivas de crescimento no médio prazo, um futuro além do primeiro mandato de Dilma Rousseff.
O governo parece tentado a anabolizar resultados. Parece mais preocupado em intervenções localizadas e arbitrárias do que com os indicadores gerais de saúde macroeconômica. Num ambiente mundial que solapa os fatores de crescimento, forçar resultados imediatos pode minar o vigor futuro.
Ao deixar a economia se amoldar a um ambiente mundial mais deprimido, os condutores da política econômica poderiam acelerar mudanças qualitativas. Em troca de décimos pontuais de crescimento, o país poderia reduzir a taxa de juros básica.
Tal transformação daria início a um ciclo de redução de gastos com juros, que levaria à redução da dívida pública. Nesse novo ambiente, o governo poderia refinanciar seus débitos em posição de vantagem, reduzindo os prêmios de risco hoje demandados pelo mercado.
Este esforço sem dúvida tem de ser acompanhado de uma atitude ainda mais rigorosa em relação ao gasto público -poupar mais que os 3,1% do PIB que o governo promete.
Ao fim da fase mais aguda da crise mundial, que ainda pode levar quase dois anos, a economia brasileira poderia estar deflacionada, com juros reais civilizados, com equilíbrio orçamentário e, pois, com perspectivas de redução rápida da dívida pública.
Mas o governo dedica-se mais a recorrer a truques para sintomas graves, mas que resultam de males estruturais. Dado o problema da valorização do real, interveio no mercado de capitais externos e no de câmbio. Continuou a fazê-lo até quando era visível o novo tumulto na finança mundial, o que recomendava prudência.
O resultado foi um mercado disfuncional de moedas, propício a perigosas oscilações do câmbio, que enfim exigiram intervenção do Banco Central justamente para valorizar o real. Mais desastrada foi a decisão de reservar mercado para um grupo de montadoras aqui instaladas, quando toda a indústria padece com o câmbio e as outras distorções do comércio externo.
Anabolizar o crescimento é contraproducente. O governo deveria se reabilitar o quanto antes, abandonar os estímulos artificiais e se concentrar em preparar o país para um ciclo de crescimento longo.
Para tanto, a receita é conter o gasto, reduzir o ativismo arbitrário e permitir a queda dos juros e da dívida.


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