São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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GUERRA DE RECURSOS

Alguns dos mais duradouros e sangrentos conflitos do mundo têm como combustível matérias-primas como petróleo, madeiras tropicais, plantas usadas na produção de drogas (principalmente papoula e coca), pedras preciosas, cobalto e coltan (columbita-tantalita, minério utilizado na fabricação de circuitos eletrônicos usados em telefones celulares), segundo recente estudo publicado pela organização ambiental Worldwatch Institute.
O relatório, intitulado "Anatomia das Guerras por Recursos" cita, entre outros exemplos, a guerra civil angolana. Os rebeldes da Unita se financiavam com a venda de diamantes para companhias mineradoras sul-africanas. Segundo o estudo, o comércio ilegal rendeu aos rebeldes algo como US$ 4 bilhões entre 1992 e 2001, numa estimativa conservadora.
Outros conflitos marcados pela exploração de recursos naturais incluem o ópio no Afeganistão, as madeiras nobres em Myanmar e o coltan no Congo.
Por vezes, para explorar melhor as reservas naturais, as facções em guerra forçam o deslocamento de populações, quando não as utilizam como mão-de-obra barata. Há até casos em que jovens são recrutados à força. É claro que esse tipo de exploração não se importa com os danos ambientais que possa provocar.
A proposta dos autores do relatório para resolver o problema -o boicote a produtos que sejam feitos com matérias-primas "sujas"- tem algo de poético e irrealista, principalmente se se consideram recursos como petróleo, uma commodity, ou drogas, cujo comércio já é ilegal. Ainda assim, não parece um despropósito tentar criar mecanismos internacionais para evitar que matérias-primas cobiçadas por países ricos tragam ainda mais sofrimento para os pobres. Não se deve desprezar a crescente tendência dos consumidores mais ricos de dar atenção à origem dos produtos que utilizam.


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