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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Jogo estranho
SÃO PAULO - Este foi um segundo
turno estranho. Digo "foi" porque
há a sensação de que, além de estranho, já acabou. Por exaustão.
Por carência de ideias. Por excesso
de chatice. Pelas falsas polêmicas...
Acabou, antes de mais nada,
porque Dilma Rousseff deve ser
eleita no domingo, a não ser que José Serra produza em cinco dias o
milagre que não foi capaz de fazer
desde que se lançou, em abril.
Tem-se, hoje, a impressão de que
o tucano não encontrou o tom da
campanha e esgotou suas armas.
Quais foram elas? Um capacete na
cabeça e um crucifixo na mão.
A insistência no tema do aborto,
com o trololó religioso que durou
semanas, e a valorização estridente
da agressão de que foi vítima no Rio
são sintomas de um candidato sem
foco, desesperadamente em busca
de algo em que se agarrar.
Só isso explica, também, o acesso populista do tucano austero, que
promete elevar o salário mínimo a
R$ 600, aumentar em 10% o valor
da aposentadoria e pagar 13º para
os beneficiários do Bolsa Família.
Serra quis parecer o Lula do Lula.
Mobilizando a agenda conservadora ou mimetizando a pauta petista, o tucano apostou sempre e tão
somente em si mesmo, na sua capacidade de fazer, mandar, decidir.
Pode soar estranho, porque se
trata de um personagem doente de
tão racional, mas Serra é um candidato com forte traço messiânico.
Mas o que ou quem ele quer salvar? Os pobres? A democracia? Os
valores da família? A nossa fé? Apesar de ser mais aparelhado do que
sua adversária, o tucano se desvirtuou no processo eleitoral, sem, no
entanto, conseguir romper o encanto do lulismo nem propor uma
discussão séria do país, que fosse
além da sua obsessão pessoal.
Parece mais fácil (é essa a inclinação da maioria) atribuir a provável derrota tucana aos "erros" do
candidato, e não às dificuldades
objetivas de enfrentar a escolhida
de Lula na conjuntura atual. Serra
colaborou para que as pessoas cometessem essa injustiça com ele.
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