|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
O real complô das elites
BRASÍLIA - A presidente do Supremo Tribunal Federal quer aumentar o próprio salário para R$ 30
mil e os dos colegas ministros para
perto de R$ 26 mil.
Como os salários da principal
Corte do país definem os limites de
remuneração no serviço público, isso pode acarretar um efeito cascata
de boas proporções.
E o Conselho Nacional de Justiça, criado há pouco justamente como um "olhar externo" no excesso
de independência da Justiça para
fazer o que bem entender, quer dar
um jeito de aumentar os seus salários de R$ 23 mil para nada módicos
quase R$ 29 mil.
Será que vai ser preciso criar um
conselho para vigiar o conselho que
vigia a Justiça?
Mas a moda pegou ali na praça
dos Três Poderes, onde o Congresso
também se assanhou todo querendo aumentos para os parlamentares. Os mais modestos, de 30%. Os
mais caras-de-pau, de até 90%.
Ninguém questiona que suas excelências, os deputados e senadores, os ministros do Supremo e o
Conselho de Justiça têm gabarito e
direito a bons salários. O problema
é a comparação. E a oportunidade.
Na mesma semana, enquanto
eles pediam mais, o governo discutia menos para quem já tem menos
-inclusive menos capacidade de
pressão. O futuro salário mínimo
está sendo cortado de R$ 375 para
R$ 367, e os técnicos trabalham freneticamente para aumentar a idade
mínima para aposentadoria.
O que fica é isso: os poderosos
querem ganhar R$ 30 mil e, ao mesmo tempo, cortar R$ 8 do salário
mínimo. Ao contrário daquele nosso conhecido que sempre ganha, seja na condição de fortão ou de fraquinho, no mundo real, à margem
do marketing, o "fortão" pede muito e se dá bem, e o "fraquinho" não
pede nada e só se dá mal.
E é esse, afinal, o velho, conhecido e verdadeiro "complô das elites".
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Férias, as últimas? Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O sorriso da sociedade Índice
|