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CLÓVIS ROSSI
Há mocinhos nessa história?
SÃO PAULO - O afastamento do
delegado Protógenes Queiroz do
Departamento de Inteligência da
Polícia Federal deveria reativar
uma pergunta que o ombudsman
desta Folha, Carlos Eduardo Lins
da Silva, tem feito com freqüência,
mas que não encontrou resposta
até agora. A saber, se Carlos Eduardo me permite a tradução livre de
sua inquietação: qual é o jogo político em torno da tal Operação Satiagraha, talvez o mais confuso episódio dos muitos em que a Polícia
Federal gerou manchetes?
A única coisa que parece clara até
agora é que há uma disputa na PF,
supostamente entre seu atual chefe, Luis Fernando Correia, e seu antecessor, Paulo Lacerda, diretor
(afastado provisoriamente) da
Agência Brasileira de Inteligência.
Qual é o fundo da divergência?
Ciúmes funcionais? Desacordo sobre métodos operacionais? Estranhamento político?
No meio do caminho ainda apareceu a divergência Abin-PF. Antes, aliás, as duas instituições cooperaram na tal Satiagraha, quando
a investigação estava a cargo de
Protógenes. Depois, entraram em
rota de colisão, a ponto de a PF ter
apreendido material da Abin, talvez
sigiloso, talvez de interesse da segurança nacional, em episódio que
torna sem graça a série de TV
"Agente 86".
Qual é, afinal, o pecado de Protógenes? Num primeiro momento,
chegou a ser aclamado como o vingador da moral e dos bons costumes, supostamente (ou realmente)
ofendidos por Daniel Dantas, o
banqueiro que, para fechar o círculo das dúvidas, diz estar seguro, no
âmbito da Justiça, apenas nos tribunais superiores, que, aliás, de fato lhe deram não um, mas dois
habeas corpus.
A imensa confusão armada em
torno da Satiagraha exigiria que as
autoridades, mais até que a mídia,
aliás, viessem a público para explicar quem é mocinho e quem é bandido, sob pena de ficar a impressão
de que não há mocinhos.
crossi@uol.com.br
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