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ANTONIO DELFIM NETTO
Falta de memória
É
CADA VEZ mais evidente a
enorme disfuncionalidade da
excessiva liberdade deixada
ao setor financeiro pela política
monetária laxista (na teologia moral, "tendência a fugir ao dever e à
lei, com base em razões pouco ou
mal fundamentadas") dos Bancos
Centrais. Uma das coisas mais surpreendentes é a memória curta dos
mercados.
Em janeiro de 2002 (em resposta a uma série de escândalos), o
Congresso americano aprovou a lei
Sarbanes-Oxley, que fixou normas
de proteção aos investidores. Pois
bem, apenas três anos depois da lei
e quatro anos depois do estouro da
"bolha" de ativos (e do escândalo
da Enron), o presidente Bush indicou em 2006 para "chairman" da
Security and Exchange Commission, Christopher Cox, um congressista conhecido por sua fúria
desregulatória. O próprio secretário do Tesouro, Paulson, empossado também em 2006, disse, em seu
discurso de posse, que vinha para
acabar com todo o resíduo de regulação que entravava a liberdade financeira produtora do desenvolvimento da economia real.
Completava-se, assim, mais um
dos ciclos da dialética infernal de
laxidão e controle produzidos pelas "bolhas" dos mercados de ativos
e as fraudes ínsitas à sua história.
Agora é a vez de o G20 sugerir
mais controle. O tempo se encarregará de corroê-lo à medida que a
infinita imaginação dos agentes financeiros for descobrindo novos
"produtos exóticos" que os Bancos
Centrais só entenderão quando
ocorrer a próxima crise. Mas por
quê? Apenas porque é assim que
funciona o sistema que trouxe os
homens da Idade da Pedra à Idade
da Informática nos últimos 250
anos...
O que talvez interesse agora é
tentar adivinhar quanto durará a
crise da economia real depois do
acerto da economia financeira. A
tarefa é impossível, mas o passado
talvez nos dê algumas informações.
Se tomarmos a média das sete últimas crises sofridas pela economia
dos EUA e fizermos uma uniformização do PIB nos "picos" igual a
100, encontramos que ela se agrava
durante os primeiros dois ou três
trimestres e inicia uma recuperação entre o quinto e sexto semestre
(quando retorna ao "pico" = 100), a
partir do qual volta a subir para
completar outro ciclo.
Nessas condições, deve-se esperar que a redução da atividade e do
emprego na economia mundial
prossigam até setembro/outubro
de 2009 e se inicie uma volta ao nível de atividade de 2007 que será
atingido no segundo semestre de
2010. Esse parece ser o tempo no
qual teremos de usar nosso mercado interno com inteligência e ousadia para sustentar um razoável
crescimento e o nível de emprego.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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