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CARLOS HEITOR CONY
Casta Suzana
RIO DE JANEIRO - Foram muitos, muitíssimos, os palpites sobre a
visita de Ahmadinejad ao Brasil, e
nada demais que eu também meta a
colher nesse mingau.
Sinceramente, achei que as reações, dentro e fora da mídia, nas
ruas e nas faculdades, foram legítimas, mas também a atitude do governo, recebendo protocolarmente
o presidente do Irã, não deixou de
ter a sua serventia.
Afinal, os dois países mantêm relações diplomáticas e comerciais,
que tendem a aumentar após a visita e os acordos assinados. O fato
de Ahmadinejad ser a bisca que é
não pode demonizá-lo a ponto de
ser uma não pessoa no cenário
internacional.
Ele ouviu, de corpo presente e
com a ajuda da tradução simultânea, tudo o que Lula teve a dizer -e
disse-o bem, falando sobre o uso
pacífico da energia nuclear e ressaltando a necessidade de um acordo
de paz no Oriente Médio. Também
condenou o apoio a terroristas, pecado de qual o Irã é costumeiramente acusado. Praticamente, Lula
disse tudo o que todos pensam
sobre o Irã e sobre o seu atual
presidente.
A turma que se manifestou contra a visita acredita que o Brasil deva ser uma casta Suzana, senhora
acima das contingências terrenas,
juiz superior capaz de eleger o bem
e reprovar o mal. Ninguém deu ao
Brasil -como não deu a nenhum
outro país- esse poder teológico ou
moral de separar o joio do trigo.
Não há dúvida de que o presidente iraniano não é simpático. Sua última eleição provocou muito sangue e ele governa o seu país com
mão de ferro, desrespeitando os direitos humanos, calando a oposição, assassinando intelectuais.
Tudo isso é verdade, mas o Brasil
mantém relações com ele e com seu
país, tira vantagens nos acordos comerciais e, hipocrisia à parte, a Casta Suzana não é tão casta assim.
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