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São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Caso Santo André
"Não posso deixar de demonstrar toda a minha indignação em relação à reportagem "Preso diz à Justiça que apanhou de Greenhalgh; deputado vê "absurdo" (Brasil, pág. A8, 23/12) e aos procedimentos da Folha de S.Paulo. O réu, em seu depoimento, pode tudo. Calar. Falar. Mentir. Acusar. Não precisa ter compromisso com a verdade. O mesmo não pode acontecer com um veículo de comunicação. O jornal e o jornalista não podem se eximir da responsabilidade que têm ao noticiar acusações, muito menos fazer isso sem contextualizar o fato, sem ouvir outros envolvidos no episódio e dando mais espaço a um acusado preso sob denúncia de crime de extorsão mediante sequestro seguida de morte do que a um homem que tem dedicado sua vida ao combate daquilo de que o acusa o delinquente: a tortura. O "Manual da Redação" deste jornal diz que nenhuma pauta estará completa sem que se desenvolva a relação dos fatos com contextos variados e pertinentes, a fim de oferecer ao leitor os nexos históricos, causais, estatísticos e culturais na notícia. Isso não foi feito. O mesmo manual diz que toda boa reportagem exige cruzamento de informações. Isso também não foi feito. Nenhuma das pessoas que, além de mim, estiveram presentes ao interrogatório do preso, realizado no DHPP às 16h de 3/3/2002, foi ouvida. Nem os delegados Armando de Oliveira Costa Filho e José Masi, nem o curador designado para o ato, nem as duas testemunhas presentes ao interrogatório, nem mesmo o promotor Salmo Mohmari dos Santos Júnior. A Folha nem sequer levou em consideração as informações que publicou na época dos fatos, as quais informam que o primeiro depoimento do preso foi feito à Polícia Federal, responsável pela prisão, e que ele guarda o mesmo conteúdo do depoimento do DHPP. Soma-se a isso o fato de a Folha ter sido o único veículo a divulgar a acusação leviana do preso, ainda que não tenha sido o único jornal a ter acesso às informações sigilosas do processo. Fosse uma questão de acreditar que essa era uma informação relevante para o leitor e o caso, ela deveria ter sido feita com os critérios determinados pelo jornal para todos os textos produzidos por sua Redação. Não bastasse a publicação da reportagem nesses termos, o jornal ignorou sumariamente as manifestações de solidariedade que recebi imediatamente de todo o país, entre elas o pronunciamento de senadores e uma carta aberta da OAB. Ignorou também as cartas enviadas ao jornal, pelo menos as que foram remetidas com cópias ao meu gabinete. Publicou, na edição do dia seguinte, texto em que o presidente do meu partido, José Genoino, e o senador Eduardo Suplicy, também petista, me defendem das acusações, reafirmadas pela reportagem. A nota do Painel que registra o apoio que recebi de José Serra é, sem dúvida, extremamente valiosa, mas está longe de refletir a repercussão da veiculação da notícia pela Folha de S. Paulo. O que não me deixou dúvidas de que era necessário registrar essa irresignação foi o fato de o jornal não publicar entrevista com o promotor que acompanhou o depoimento, cujo telefone foi passado à jornalista Lilian Christofoletti pelo senador Eduardo Suplicy. Não é a primeira vez que tenho problemas na relação com a Folha, mas, nesse caso, o jornal abandonou todos os preceitos éticos e o bom jornalismo. Para mim, o episódio resultou em manifestações de apoio que vão de eleitores a históricos adversários políticos. O contexto evidencia a intenção do preso que me faz acusações e a motivação dos que fornecem informações sigilosas à Folha, sempre com o intuito de desqualificar as investigações originais da polícia, as quais acompanhei. A análise do comportamento do jornal não deixa dúvidas sobre o papel que ele escolheu cumprir. Não há razão para desesperar da prevalência da verdade. A notícia infame choca, fere, magoa, permite avaliar o comportamento da Folha, mas não será suficiente para provocar o meu silêncio e a minha intimidação."
Luiz Eduardo Greenhalgh, deputado federal pelo PT-SP (São Paulo, SP)

 

"Li, na página A8 (Brasil) da Folha de 23 de dezembro, a notícia estranha de uma acusação levantada contra o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. Trabalhei com ele durante 30 anos e posso atestar que esse advogado foi o defensor mais fiel de todos aqueles que não tinham acesso à defesa gratuita. Afirmo, com todos os membros do Centro Santo Dias de Direitos Humanos, que Greenhalgh é de uma correção absoluta e de uma fidelidade a toda a prova em favor das pessoas perseguidas. Além de ser meu amigo, foi sempre defensor de todos quantos recorriam à nossa entidade. Espero que a Folha publique este meu depoimento e continue honrando -na minha opinião- um dos maiores advogados que o Brasil já conheceu."
Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo (São Paulo, SP)

Planos de saúde
"O Congresso aprovou e o presidente da República sancionou o Estatuto do Idoso, que se transformou em lei e passará a vigorar a partir de 1º/1/2004. Um dos itens da lei assegura que o idoso com mais de 60 anos não mais será atingido pelos aumentos por idade. Agora, a Agência Nacional de Saúde, em conluio -só posso chamá-lo assim-, decidiu que a lei só vale para aqueles que ingressarem em algum plano de saúde a partir de janeiro de 2004 ou migrarem do plano antigo para um plano novo, com um aumento mensal de 15% a 25%. Jogaram no lixo a lei, cujo espírito era proteger o idoso dos aumentos abusivos das administradoras dos planos de saúde. Mais uma vez, os idosos foram prejudicados. Antigamente, esse assunto seria classificado como "maracutaia" por uma figura atualmente importante no cenário nacional. E agora?"
Mario Calich (São Paulo, SP)

Liberdade religiosa
"O editorial "Mudar de religião" chama a atenção para a liberdade religiosa que deve existir em qualquer país. E estabelece um "Estado rigorosamente laico" como condição de eficácia para essa liberdade. Ora, um Estado laico não é condição suficiente -nem sequer necessária- para a liberdade religiosa. Cuba e China são dois exemplos de Estados rigorosamente laicos que não toleram a liberdade religiosa. A Argentina, por sua vez, é um Estado oficialmente católico que tolera outras religiões livremente. A separação entre religião e Estado é uma bênção, mais até para a religião do que para o Estado, pois não são poucos os exemplos na história de tiranos que instrumentalizam crenças religiosas em benefício de seus próprios interesses. Finalmente, as piores chagas que se abateram sobre o homem do século 20 (para usar a expressão do editorialista) nada têm a ver com religião: comunismo e nazismo, ideologias atéias, mataram mais que todas as guerras de religião dos séculos anteriores combinadas."
Marcelo Guterman (São Paulo, SP)

Boas-festas
A Folha agradece e retribui os votos de boas-festas recebidos de: Ricardo Montoro, vereador (São Paulo, SP); Joaquim Falcão (Rio de Janeiro, RJ); M.Gonçalves Publicidade (São Paulo, SP); Luiz Gonzaga Alves Pereira, diretor de Desenvolvimento e Comunicação da Vega Engenharia Ambiental (São Paulo, SP); Julio Miyamoto, Ajinomoto (São Paulo, SP); Unisa -Universidade de Santo Amaro (São Paulo, SP); Maria Helena Dias (Belo Horizonte, MG); Aurelino Guanabara Bispo Vieira, presidente da Sociedade Amigos do Jardim Brasil (São Paulo, SP); Romeu Maluhy (Rio de Janeiro, RJ).


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