São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

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VAGUINALDO MARINHEIRO

Obviedades da educação

AVISO: este artigo é cheio de obviedades, mas, como as coisas não mudam e fim de ano é tempo de balanços, vale repeti-las. Obviedade número 1 - Todos sabem que acesso geral a uma escola de qualidade reduz a desigualdade social de qualquer país. É também sabido, há muito, que a desigualdade do Brasil é uma das maiores do mundo (ficamos à frente apenas de alguns poucos países africanos e de Bolívia, Haiti, Colômbia e Paraguai no nosso continente, segundo a ONU).
Agora, um estudo divulgado por esta Folha na edição de segunda-feira mostrou que a desigualdade da educação no país é ainda maior que a econômica! Somos, talvez, os campeões mundiais nesse quesito.
Obviedade número 2 - Diante desse novo dado, ou o Brasil redefine de vez suas prioridades ou vamos assistir aos demais países avançarem enquanto discutimos uma versão do teorema do biscoito: o país é desigual economicamente porque somos desiguais na educação ou somos desiguais na educação porque nossa distribuição de renda é vergonhosa?
Obviedade número 3 - Se os mais pobres freqüentassem boas escolas, teriam condições de disputar com os mais afortunados bons trabalhos que pagam salários altos. Como isso não acontece, os que têm mais dinheiro pagam melhores escolas para os seus filhos. O que permite a eles acesso às universidades de ponta. O que leva a melhores empregos. Que garantem melhores salários. Que permitem mais acumulação de dinheiro. O que amplia a desigualdade.
Obviedade número 4 - Essa todos os governantes deveriam ter aprendido, uma vez que foi repisada mais de 1 milhão de vezes: a política social que dá mais resultados é o investimento em educação. Povo mais bem educado é também mais saudável (noções de higiene evitam doenças) e tende a se envolver menos com a criminalidade (o tráfico, por exemplo, é mais atraente para os sem-ensino e perspectivas). Num só investimento há redução de custos com saúde e combate à violência.
Obviedade número 5 - É claro que é preciso cobrar do poder público, mas os pais têm contribuição a dar. Educadores insistem que a escola melhora quando os pais participam cobrando resultados. Então não basta reclamar. Quer um futuro melhor para seu filho, freqüente a escola.
Quanto aos professores, já pedindo perdão aos que se esforçam, é preciso mais seriedade dos que trabalham no setor público. Como reduzir a desigualdade se cerca de 12,8% dos 230 mil professores da rede estadual de São Paulo faltam por dia, sem que com isso percam salário? Na escola privada, as faltas não chegam a 1% e, obviedade final, quem abusa perde o emprego.


VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação. Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de Antonio Delfim Netto.


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