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VAGUINALDO MARINHEIRO
Obviedades
da educação
AVISO: este artigo é cheio de
obviedades, mas, como as
coisas não mudam e fim de
ano é tempo de balanços, vale repeti-las. Obviedade número 1 - Todos
sabem que acesso geral a uma escola de qualidade reduz a desigualdade social de qualquer país. É também sabido, há muito, que a desigualdade do Brasil é uma das maiores do mundo (ficamos à frente
apenas de alguns poucos países
africanos e de Bolívia, Haiti, Colômbia e Paraguai no nosso continente, segundo a ONU).
Agora, um estudo divulgado por
esta Folha na edição de segunda-feira mostrou que a desigualdade
da educação no país é ainda maior
que a econômica! Somos, talvez, os
campeões mundiais nesse quesito.
Obviedade número 2 - Diante
desse novo dado, ou o Brasil redefine de vez suas prioridades ou vamos assistir aos demais países
avançarem enquanto discutimos
uma versão do teorema do biscoito: o país é desigual economicamente porque somos desiguais na
educação ou somos desiguais na
educação porque nossa distribuição de renda é vergonhosa?
Obviedade número 3 - Se os
mais pobres freqüentassem boas
escolas, teriam condições de disputar com os mais afortunados
bons trabalhos que pagam salários
altos. Como isso não acontece, os
que têm mais dinheiro pagam melhores escolas para os seus filhos.
O que permite a eles acesso às universidades de ponta. O que leva a
melhores empregos. Que garantem melhores salários. Que permitem mais acumulação de dinheiro.
O que amplia a desigualdade.
Obviedade número 4 - Essa todos os governantes deveriam ter
aprendido, uma vez que foi repisada mais de 1 milhão de vezes: a política social que dá mais resultados
é o investimento em educação.
Povo mais bem educado é também mais saudável (noções de higiene evitam doenças) e tende a se
envolver menos com a criminalidade (o tráfico, por exemplo, é
mais atraente para os sem-ensino
e perspectivas). Num só investimento há redução de custos com
saúde e combate à violência.
Obviedade número 5 - É claro
que é preciso cobrar do poder público, mas os pais têm contribuição
a dar. Educadores insistem que a
escola melhora quando os pais participam cobrando resultados. Então não basta reclamar. Quer um
futuro melhor para seu filho, freqüente a escola.
Quanto aos professores, já pedindo perdão aos que se esforçam,
é preciso mais seriedade dos que
trabalham no setor público. Como
reduzir a desigualdade se cerca de
12,8% dos 230 mil professores da
rede estadual de São Paulo faltam
por dia, sem que com isso percam
salário? Na escola privada, as faltas
não chegam a 1% e, obviedade final, quem abusa perde o emprego.
VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação. Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna
de Antonio Delfim Netto.
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