São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Um bem-aventurado e sua douta ignorância

JOSÉ CARLOS DE AZEVEDO


Sem um só argumento científico para contestar o que eu disse sobre o clima da Terra, Carlos Nobre atribuiu a mim erros que não cometi


COM ATRASO , pouca educação e menores conhecimentos científicos, o sr. Carlos Nobre, do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), publicou neste espaço, no dia 13/12, o artigo "Sobre um físico e a feliz ignorância" para criticar texto de minha autoria publicado em "O Estado de S. Paulo" de 7/11, "O aquecimento da Terra". Bastaria dizer "non sequitur" para respondê-lo. Sem um só argumento científico para contestar o que eu disse, atribuiu a mim erros que não cometi e acobertou-se em expressões latinas triviais.
Foi além: insinuou ter conhecimentos de física que não tem e falou de "constantes da física quântica que não se alteram desde o surgimento desses gases nos primórdios do universo, há mais de 13 bilhões de anos", afirmação errada, pois elas variam; ele nada entende de "renormalização" nem dos estudos iniciados por Dirac em 1937 sobre variação da constante gravitacional.
Para impressionar, falou de "física dos sistemas complexos", ramo da matemática iniciado por Poincaré no século 19 e inútil para provar que o CO2 gerado pelo homem é a causa do aquecimento.
A física pueril do sr. Nobre é do século 19, sem quanta e sem relatividade, e a meteorologia não é ciência por não ter a capacidade de prever; ninguém prevê o clima com mais de um mês de antecedência, apesar das "projeções por computador", que valem pouco. O sr. Nobre deve também confiar no Almanaque Capivarol e ignora que "a ciência é feita de fatos, como uma casa é feita de pedras, mas uma acumulação de fatos não constitui uma ciência, como uma de pedras não faz uma casa" (H. Poincaré, "La Science et l'Hipothèse").
O resumo do meu artigo é simples: o IPCC é um órgão político, e não científico, e não há prova de o CO2 gerado pelo homem influir no clima da Terra, que sofre outras influências: manchas solares, raios cósmicos, neutrinos, ciclos da Terra em sua órbita, vulcanismo, nuvens, correntes oceânicas etc.
O leitor interessado na opinião de renomados cientistas sobre o IPCC pode ler na internet a conferência de Antonino Zichichi, presidente da Federação Mundial de Cientistas, feita neste ano no Vaticano para o Conselho Pontifício de Justiça e Paz, em que criticou a debilidade dos modelos matemáticos do IPCC; disse que o tema do aquecimento deve voltar aos laboratórios e não cabe em foros onde alarmistas buscam notoriedade.
Leia também os seminários internacionais sobre emergências planetárias, da fundação Ettore Majorana, Erice, Itália. Leia o que disse, na Universidade de Wisconsin e em "The Third Culture", Freeman J. Dyson, de Princeton, um dos criadores da eletrodinâmica quântica.
Leia o depoimento do festejado meteorologista Robert M. Carter, "Public Misconceptions of Human Caused Climate Change", no Senado dos EUA, com críticas ao IPCC, em que disse: "É fato notável que, apesar dos gastos em escala mundial de cerca de US$ 50 bilhões e dos esforços de dezenas de milhares de cientistas, nenhum sinal climático foi detectado que seja inequivocamente distinto das variações naturais".
Na mesma linha, há o depoimento, no mesmo Senado, do meteorologista do MIT Richard Lindzen. Henrik Svensmark, Christopher Landsea, Paul Reiter, Claude Allègre, Hendrik Tennekes... Descabe a lista enorme de cientistas críticos ao IPCC.
O clima na Terra muda sempre e nada indica que sofre influência humana. Por isso, basta dizer ao sr. Nobre: afaste-se de seus mentores Al Gore e Arnold Schwarzenegger, o "Exterminador do Futuro"; leia o "Manual da Redação" da Folha, pois o seu texto é muito confuso; insista em sua profissão, que é extremamente importante, e lembre-se do exemplo de Demóstenes, o maior orador da Antiguidade: nasceu gago e venceu essa limitação discursando, para bravias ondas do mar, com umas pedrinhas na boca; por isso, estude muita física, assunto que conhece pouco. E encontre conforto espiritual no Evangelho de são Mateus: "Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus".


JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO , 75, é doutor em física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA). Foi reitor da UnB (Universidade de Brasília).

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