São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Cristovam e Tarso

BRASÍLIA - O que Tarso Genro tem que Cristovam Buarque não tem?
Os dois são intelectuais, falam pelos cotovelos e têm uma explicação sofisticada para tudo, mesmo para as questões mais simples.
Os dois já disputaram e venceram eleições e têm experiência administrativa. Genro foi prefeito de Porto Alegre, e Buarque, reitor da UnB e governador do Distrito Federal.
Os dois ainda são referências do PT nos seus redutos. Tarso, no Rio Grande do Sul. Buarque, quase sozinho, no DF, hoje dominado pelo peemedebista Joaquim Roriz.
Então, voltando à pergunta original: o que um tem que o outro não tem (ou não tinha) para ser ministro da Educação do governo Lula?
A origem político-partidária, por exemplo. Tarso Genro esteve no PT e com o PT desde a criação do partido, lá se vão mais de 20 anos. Já Cristovam Buarque era um técnico, passou pelo governo Tancredo, enveredou pelo PDT e votou em Leonel Brizola (hoje na oposição) nas primeiras eleições presidenciais, em 89. O candidato do PT foi Lula.
Isso explica, talvez, quem sabe, o "isolamento" do qual Buarque se queixou ainda no governo em carta a Luiz Gushiken e do qual continua se queixando agora, já com o pé fora do MEC, a caminho do Senado.
Mas não explica as diferenças e menos ainda a antipatia que Lula confidenciava aos mais próximos quando falava do seu primeiro ministro da Educação. Para o presidente, Buarque é arrogante, fala como dono da verdade, trata os demais (inclusive ele próprio) com ar professoral.
A gota d'água pode ter sido a última reunião de Buarque no Planalto, com Lula criticando o regime de cotas para negros nas universidades e Buarque defendendo. Vá se saber.
Só não dá, nem dará jamais, para dizer que Buarque caiu porque Lula nunca engoliu a ousadia dele de querer ser o candidato presidencial do PT em 98. Se essa culpa ele tem, seu sucessor também tem. Lembra de dois pré-candidatos contra Lula? Pois é. Até isso. Buarque e Tarso Genro, ministro e sucessor.


Texto Anterior: Davos - Clóvis Rossi: Soros para presidente
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: O segundo turno no Rio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.