São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

As duas cruzadas

DAVOS - Suspeito que tenho razoável autoridade para falar de Luiz Inácio Lula da Silva pelo tempo que acompanho suas atividades, primeiro como líder sindical, depois como político e, agora, por fim, como presidente da República.
Por isso, ouso afirmar que nunca o vi tão seguro e vendendo autoconfiança como ontem, nas suas várias intervenções, públicas ou a portas fechadas, no encontro anual de 2007 do Fórum Econômico Mundial.
Não que Lula seja exatamente inseguro. Ao contrário, é presunçoso. Mas tem sido capaz de algumas terríveis escorregadelas. Como a de dizer que Windhoek, capital da Namíbia, nem parecia cidade africana de tão limpinha.
Ontem, ao contrário, meteu-se em dois tipos de apostolado com um vigor tremendo, uma autoconfiança talvez excessiva, e números e frases na ponta da língua. Uma delas é a do crescimento econômico no Brasil, a mais formidável deficiência de seu primeiro período no campo da economia (no político-institucional, houve outros e muitos pecados, arquiconhecidos e arquicomentados).
Quando ele falava em "espetáculo do crescimento", nunca me soava particularmente convincente. Parecia mais maroto do que seguro do que dizia. Agora, continua não me convencendo, porque desenvolvi, em 44 anos de profissão, a não me deixar convencer por palavras de governantes, quaisquer que sejam, falem em que língua falarem. Mas exala mais fé do que antes.
Fé tampouco garante crescimento, mas é melhor que marotice.
A segunda cruzada de Lula é em favor de um acordo na Rodada Doha de negociações comerciais, que ele aponta como a salvação da lavoura universal.
Pode até exagerar na avaliação, mas a maneira como ele trata de "tu a tu", como dizem os espanhóis, líderes das grandes potências, como se o Brasil fosse também uma, é de um simpático desassombro.


crossi@uol.com.br

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