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CLÓVIS ROSSI
As duas cruzadas
DAVOS - Suspeito que tenho razoável autoridade para falar de Luiz
Inácio Lula da Silva pelo tempo que
acompanho suas atividades, primeiro como líder sindical, depois
como político e, agora, por fim, como presidente da República.
Por isso, ouso afirmar que nunca
o vi tão seguro e vendendo autoconfiança como ontem, nas suas várias
intervenções, públicas ou a portas
fechadas, no encontro anual de
2007 do Fórum Econômico Mundial.
Não que Lula seja exatamente inseguro. Ao contrário, é presunçoso.
Mas tem sido capaz de algumas terríveis escorregadelas. Como a de dizer que Windhoek, capital da Namíbia, nem parecia cidade africana de
tão limpinha.
Ontem, ao contrário, meteu-se
em dois tipos de apostolado com
um vigor tremendo, uma autoconfiança talvez excessiva, e números e
frases na ponta da língua. Uma delas é a do crescimento econômico
no Brasil, a mais formidável deficiência de seu primeiro período no
campo da economia (no político-institucional, houve outros e muitos pecados, arquiconhecidos e arquicomentados).
Quando ele falava em "espetáculo do crescimento", nunca me soava
particularmente convincente. Parecia mais maroto do que seguro do
que dizia. Agora, continua não me
convencendo, porque desenvolvi,
em 44 anos de profissão, a não me
deixar convencer por palavras de
governantes, quaisquer que sejam,
falem em que língua falarem. Mas
exala mais fé do que antes.
Fé tampouco garante crescimento, mas é melhor que marotice.
A segunda cruzada de Lula é em
favor de um acordo na Rodada Doha de negociações comerciais, que
ele aponta como a salvação da lavoura universal.
Pode até exagerar na avaliação,
mas a maneira como ele trata de "tu
a tu", como dizem os espanhóis, líderes das grandes potências, como
se o Brasil fosse também uma, é de
um simpático desassombro.
crossi@uol.com.br
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