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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Turbulências financeiras
EM MENOS DE um ano, tivemos três turbulências graves
no mercado financeiro. Em
março de 2007, a forte queda da
Bolsa da China (9%) contaminou o
mundo. No segundo semestre, foi o
abalo do "subprime". Agora é o medo da recessão nos Estados Unidos.
Esse medo levou as autoridades
do Federal Reserve a reduzirem a
taxa de juros, instantaneamente,
em 0,75 ponto percentual, podendo chegar a um ponto.
Alguns viram nisso um bálsamo
para estimular os empréstimos e
ativar o consumo. Outros interpretaram o gesto como a senha de uma
crise grave e duradoura.
O fato é que ninguém sabe se os
Estados Unidos passarão por uma
recessão ou por uma desaceleração. É verdade que a economia
mundial já não depende só dos
americanos. Os europeus, os chineses, os indianos e outros emergentes, como o Brasil, já possuem
uma economia doméstica pujante.
Mas essa tese do descolamento
tem seus limites. Afinal, os Estados
Unidos respondem por mais de
30% das compras do mundo.
Os bancos centrais não podem
forçar as pessoas a consumir assim
como os consumidores podem forçar os bancos a emprestar. Isso é
feito pela taxa de juros.
Acredito que a redução atual,
combinada com os estímulos do
governo americano ao colocar
mais dinheiro no bolso dos consumidores, venha a elevar as compras. Mas isso não ocorre do dia para a noite. Temos de contar com
um certo esfriamento do consumo
naquele país por vários meses.
E o Brasil, como fica nisso? Não
podemos dizer que estamos imunes à crise. Somos parte do mundo.
Mas não vejo razão para pânico,
pelo menos em 2008.
Mesmo que as nações mais desenvolvidas desacelerem, todas
continuarão necessitando dos produtos brasileiros, pois são eles que
alimentam seus povos e garantem
os insumos para a produção industrial. Prevejo uma leve desaceleração, mas, ainda assim, cresceremos
uns 4,5% ou até 5%.
O que mais me preocupa, porém,
são os constrangimentos internos,
como a falta de energia, as estradas
despedaçadas, os portos congestionados, a burocracia alucinante e,
sobretudo, a possibilidade de o
Brasil manter -e até subir- a Selic. Com taxas externas cadentes
(hoje 3,5%) e internas ascendentes
(hoje 11,25%), mais a isenção de
impostos, podemos ter uma invasão dos especuladores externos,
derrubando o dólar para o patamar
de R$ 1,50 -o que dificultará nossas exportações. Ou seja, nosso futuro depende em grande parte de
realizarmos as lições de casa que
estão muito atrasadas, porque o
Brasil é grande e privilegiado.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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