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MELCHIADES FILHO
Territórios ocupados
BRASÍLIA - Colocar o recém-lançado Territórios da Cidadania no
mesmo saco do Bolsa Família é uma
injustiça com o programa-símbolo
do primeiro mandato de Lula.
O "novo" mutirão contra a pobreza rural não passa de um catálogo
de 135 ações sociais já existentes e
de verbas já estimadas no Orçamento para atender os 958 municípios mais carentes do país.
(Houvesse dinheiro extra ou
mesmo a realocação de investimentos, estaria configurado crime eleitoral, e o governo federal teria de
adiar a iniciativa para 2009.)
O impacto do Territórios também é incerto. No cenário mais otimista, ele alcançará 8 milhões de
habitantes, um quinto da população beneficiada pelo Bolsa Família.
Os R$ 11 bilhões prometidos para
a largada neste ano parecem chute.
A coordenação não soube informar
quanto cada cidade levará, qual será
a fatia correspondente a cada projeto (Luz para Todos, Farmácia Popular etc.), nem quanto foi destinado a esses municípios em 2007. Ou
seja, em tese, o Territórios pode significar um corte de recursos.
Por que o espalhafato no anúncio
do mutirão, então? Não se trata só
da conhecida queda de Lula por um
microfone. As áreas rurais mais pobres são um foco de críticas. A reforma agrária avançou pouco. O
acesso ao crédito no campo, um
trunfo deste governo, não foi traduzido em dividendo político. Era preciso falar algo a esse eleitorado.
O Territórios é, portanto, pura
propaganda. Mas justamente por
isso pode vir a ter utilidades.
Outro candidato à marca-fantasia de Lula 2, o PAC também não
passava de um catálogo de obras já
previstas. A sigla marqueteira, porém, forçou o Planalto a gerir esse
catálogo e divulgar balanços periódicos. Bem ou mal, o país vai aprendendo a debater infra-estrutura.
Se bem feito, o cadastro de ações
sociais pode chamar a atenção (não
só do governo) para regiões miseráveis e ajudar a aplicar melhor o dinheiro de que elas necessitam.
mfilho@folhasp.com.br
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