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Lamentável
Diante da decrépita ditadura cubana, governo Lula continua, conforme o lema de Che Guevara, "sin perder la ternura jamás"
PELA QUARTA vez em seu
mandato, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva
se dispôs a endossar, entre sessões de fotos, tapinhas nas
costas e desconversas macunaímicas, o mais ditatorial regime
do hemisfério americano.
Sua visita a Cuba, nesta semana, ocorreu num momento especialmente sombrio. O dissidente
Orlando Zapata, depois de uma
greve de fome de 85 dias, acabava
de morrer. Ativista em prol dos
direitos humanos, Zapata fora
preso em 2003, numa investida
repressiva que levou outros 75
opositores à prisão.
"Foi condenado a três anos",
disse o dirigente Raúl Castro,
adiantando-se às perguntas dos
jornalistas que acompanhavam a
visita de Lula. "Foi levado aos
nossos melhores hospitais, morreu. Lamentamos muito."
O assessor internacional de
Lula, Marco Aurélio Garcia,
ecoou solenemente as palavras
do ditador: "É lamentável, como
disse o presidente Raúl".
Há muita coisa lamentável,
com efeito, nesse episódio. Lamentáveis, por exemplo, parecem ser os conhecimentos de
aritmética de Raúl Castro, que
não explicou de que modo alguém condenado a três anos de
prisão em 2003 continuava entre as grades em 2010. Segundo a
Anistia Internacional, a pena do
dissidente se elevara a mais de 25
anos de detenção, com base nas
prolíficas estipulações da legislação cubana para casos desse tipo.
O código criminal cubano prevê, por exemplo, o "estado de periculosidade", definido como
"propensão de uma pessoa para
cometer crimes, demonstrada
por conduta manifestamente em
contradição com as normas da
moralidade socialista".
Manifestações consideradas
ofensivas às autoridades constituem crime de "desacato", levando a um ano de prisão. Se voltado
contra os principais dirigentes
do regime, o "desacato" acarreta
a triplicação da pena. A culpa pela morte de Zapata, prosseguiu
Raúl Castro, deve ser atribuída
"à confrontação que temos com
os Estados Unidos".
A base de Guantánamo, onde o
governo George W. Bush confinou suspeitos de terrorismo, seria o único lugar da ilha onde se
pratica tortura. "Há problemas
de direitos humanos no mundo
inteiro", acrescentou placidamente Marco Aurélio Garcia.
É o clássico expediente de voltar contra outro país as acusações que se referem, especificamente, à tirania que se quer
apoiar. É inegável que Bush maculou as tradições democráticas
de seu país a pretexto da "guerra
contra o terror". É também evidente que nunca faltou, nos
EUA, liberdade para protestos
contra o governo -coisa impensável sob o sistema castrista.
Fortalecer as relações comerciais com Cuba e apoiar a suspensão do contraproducente
embargo norte-americano ao
país são atitudes corretas da diplomacia brasileira.
Nada disso se confunde com a
revoltante "ternura", para lembrar o célebre dito de Che Guevara, que o governo Lula "não
perde jamais" quando se trata de
emprestar apoio a um regime decrépito, ditatorial e homicida.
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