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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Congresso Nacional deve aprovar projeto
que reduz a jornada de trabalho semanal?
NÃO
Menos trabalho significa mais desemprego
PAULO SKAF
RECENTES estatísticas que
apontam a ascensão à classe
média de 30 milhões de brasileiros referendam o peso de nosso
mercado interno na vitória contra a
crise. Mas propõem uma pergunta:
como essas pessoas conseguiram subir de patamar de renda? Dentre todos os fatores conjunturais e macroeconômicos, há uma causa inequívoca:
o trabalho.
Bastaria esse exemplo para desqualificar a proposta de emenda constitucional 231/1995, que prevê a redução da jornada semanal de trabalho
de 44 para 40 horas e o aumento da
hora extra de 50% para 75%.
Tal matéria visa à criação de mais
empregos, mas contraria a lógica matemática e experiências práticas semelhantes, malsucedidas, de outros
países. Afinal, menos (horas trabalhadas) com mais (custos) continua dando menos resultado.
A realidade, como a aritmética, é
implacável: de 2003 a 2009, o Brasil
reduziu a taxa de desemprego de
12,3% para 8,1% por meio do crescimento econômico, não por trabalhar
menos tempo. Em contrapartida, a
redução da jornada de 48 para 44 horas, estabelecida pela Constituição de
1988, não criou um emprego sequer.
Ou seja, além de não criar postos de
trabalho, essa PEC diminuiria a produtividade, comprometeria a competitividade, poderia reduzir exportações e provocar o aumento de inúmeros produtos, bens e serviços. Portanto, é contra a geração de empregos.
O caso mais parecido com o que se
pretende fazer no Brasil é o da França, que realizou um longo processo de
redução de jornada em duas etapas.
A primeira, iniciada em 1982, impôs diminuição repentina, sem medidas preventivas governamentais de
manutenção dos empregos. Ocorreu
queda de até 4% nos postos de trabalho. Os grupos de trabalhadores mais
prejudicados foram os que recebiam
salário mínimo. As autoridades diagnosticaram que a maior parte das empresas afetadas não tinha condições
de arcar com o aumento de custos, o
que as levou a reduzir quadros.
A segunda etapa, em 1998, foi elaborada com base nos erros da primeira, e o governo francês adotou um pacote de incentivos (flexibilidade e redução fiscal) para as empresas mais
afetadas, preservando empregos. Importante: a adesão ao programa era
voluntária.
No Brasil, a realidade é diferente da
Europa. Aqui, a jornada média já é de
41,4 horas semanais, segundo a Organização Internacional do Trabalho. O
índice está abaixo do de países que
concorrem conosco: Coreia (43,4),
México (43,5), Argentina (41,5), Turquia (49) e Malásia (46,9).
Além disso, 99% das empresas brasileiras são de pequeno e médio porte
e respondem por 56% do emprego.
Para as grandes empresas, que já praticam jornadas iguais ou inferiores a
40 horas, a redução não traria efeito
algum. Porém, para as pequenas e micros, a obrigatoriedade seria inviável.
Ademais, a jornada de trabalho no
Brasil já está alinhada à da maioria
das nações, inclusive desenvolvidas, e
nossa Constituição permite o moderno entendimento entre empresas e
trabalhadores para estabelecer o regime mais adequado a cada atividade
e/ou segmento. Não é prudente nivelar organizações diferentes, ramos
distintos e peculiaridades produtivas
e trabalhistas. Seria anacrônico e autoritário, além de inoportuno. Foi
trabalhando que vencemos a crise.
Em vez de uma legislação impositiva, é mais eficaz que empregadores e
trabalhadores unam-se na meta do
crescimento sustentado, do aumento
da produção e das exportações e da
consequente criação de empregos.
O diálogo democrático estabelecerá, como já vem ocorrendo, a melhor
jornada para cada empresa e setor,
promovendo sinergia entre capital e
trabalho. Sem dúvida, é por meio dessa atitude madura e avançada, congruente com as demandas da economia mundial, que pavimentaremos
nosso caminho ao desenvolvimento.
Assim, por mais que o tema seja
atraente ao marketing político, é preciso estar alerta para evitar que os
apelos eleitorais deste ano acabem fazendo prevalecer algo insensato para
a nação.
PAULO SKAF , 54, empresário, é presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp
(Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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