São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011 |
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CARLOS HEITOR CONY Biografia do leão RIO DE JANEIRO - Muito antes de De Gaulle, eu já suspeitava de que o Brasil não era um país sério. Tinha motivos genéricos e pessoais para isso. No genérico, a certeza de que tudo é possível (ou impossível), dependendo do jeito e da hora do problema. No pessoal, as inúmeras vezes em que mudaram as leis, regulamentos e as posturas para o meu lado. Já fui jornalista, repórter, redator e editor sem deixar de exercer a função tradicional a que me habituei e à qual estou ligado há 64 anos. Há tempos, numa repartição, indagaram minha profissão e eu respondi: jornalista. O camarada levou um susto, pensando que ouvira "jornaleiro". Repeti que era jornalista, que escrevia em jornal, que era sindicalizado. O camarada foi consultar um chefe, o qual consultou outro chefe, ambos consultaram um diretor, abriram um livrinho de códigos e determinaram que eu era "comunicador social". Outro exemplo: o imposto de renda. Nos países sérios, o cidadão leva hora e meia para ficar em paz com o fisco. Basta o cidadão ser honesto e o governo também. No Brasil, todos os anos mudam os formulários -aliás, neste ano só vale declaração via internet-, as deduções, as alíquotas, o diabo. Agora, o impasse: para aprovação do novo salário mínimo, o governo ofereceu uma correção de 4,5% na tabela do IR pelos próximos quatro anos. A mecânica do fisco, nos países sérios, é a mesma e é simples: o cidadão ganha tanto, gasta tanto e deverá pagar tanto. Se fraudar, pode ser preso. No Brasil, tudo se complica e todos se estrumbicam. Não adianta o cidadão tentar ser honesto: os cálculos são tão confusos e há tanta bi e tritributação que o cidadão fatalmente cometerá enganos ou contra si ou contra o erário. Não adianta ser sério: o país não é. Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Kassab socialista, PSB ruralista Próximo Texto: Fabiano Maisonnave: O táxi chinês Índice | Comunicar Erros |
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