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São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2003

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MORAL BAIXO

A força militar incontrastável dos Estados Unidos não encontra paralelo no desempenho de sua economia. Nesse front interno, não há notícias que apontem para uma retomada econômica duradoura. O índice de confiança dos consumidores americanos, segundo o instituto de pesquisas Conference Board, atingiu na última sondagem seu nível mais baixo em uma década.
O consumo é responsável por cerca de dois terços do PIB dos EUA. Com a diminuição do gasto e dos investimentos das empresas, os juros baixos e o aumento do dispêndio público lograram evitar, até agora, uma queda acentuada no consumo das famílias norte-americanas, o que teria levado a maior economia do planeta a uma forte recessão.
Um dos mecanismos que possibilitaram a sustentação de um razoável patamar de consumo está relacionado ao barateamento do crédito imobiliário naquele país. Com menos renda comprometida com o pagamento de hipotecas, as famílias tiveram acesso a uma fonte adicional de recursos para consumir.
Ocorre que a queda da atratividade dos títulos privados gerada pela acentuada deflação de ativos empresariais nas Bolsas e em outros mercados financeiros, aliada aos juros baixos, parece ter ajudado a provocar uma bolha especulativa no mercado imobiliário dos EUA.
Animadas pelo aumento do valor financeiro das residências, muitas famílias utilizaram suas propriedades como garantia para obter crédito do setor bancário. No ano passado, o montante desse tipo de empréstimo quase duplicou em relação a 2001. Um previsível movimento de refluxo nos preços dos imóveis já se inicia em algumas regiões dos EUA e, se ganhar fôlego, pode criar novo embaraço para o consumo, diminuindo o crédito e encarecendo dívidas.
Não seria exagero afirmar que, neste momento, o desempenho econômico global depende significativamente do comportamento do consumidor norte-americano. Se houver nova piora nesse setor, portanto, o prazo para a retomada do crescimento, inclusive no Brasil, pode ser mais uma vez estendido.


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