São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Leilão fracassado

Governo Serra arriscou e deixou de ganhar R$ 6,6 bi com a Cesp; desfecho terá conseqüências econômicas e políticas

O GOVERNO José Serra arriscou-se ao colocar à venda a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) sem que tivesse sido equacionado o problema da concessão de duas de suas usinas. Se não arriscou o dinheiro público que constitui o patrimônio da estatal, pois manteve o preço mínimo pelo controle em R$ 6,6 bilhões, contribuiu para o insucesso da privatização, a qual ampliaria fortemente a capacidade de investir do Estado.
É verdade, como argumenta o governador, que a tormenta nas finanças globais ajudou no fracasso da operação. Imersos numa profunda crise de desconfiança, com apetite pelo risco abalado, os grandes bancos do planeta tendem a criar mais resistências para financiar negociações de vulto. A necessidade de desembolso para a aquisição da geradora paulista era da ordem de R$ 20 bilhões, considerados os pagamentos a acionistas minoritários.
Mas, nas condições propostas, a venda da estatal paulista agregava outro risco, de ordem regulatória, que não tinha relação com o ambiente financeiro global. As concessões das hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, ambas instaladas no rio Paraná, expiram em 2015 e, pela norma vigente, precisam ser devolvidas à União e submetidas a outra licitação. As duas usinas, juntas, geram dois terços da energia produzida pela Cesp.
É provável que a regra seja flexibilizada até lá, até porque há algumas usinas federais na mesma situação das duas hidrelétricas da Cesp. Subsistia, porém, alguma incerteza, o que ajudou a afugentar compradores e financiadores e lhes deu pretexto para especular contra o leilão, na expectativa de que o governo baixasse o preço. Existindo, ademais, oportunidades de negócio à frente -como o leilão de Jirau, no rio Madeira- sem esse risco regulatório, a disposição de eventuais compradores para a Cesp diminuiu.
O fracasso do leilão da estatal paulista terá repercussões econômicas e políticas. Os R$ 6,6 bilhões que a administração estadual cobrava pela privatização seriam suficientes, por exemplo, para construir três linhas inteiras do caríssimo metrô na capital. Se os recursos fossem utilizados para elevar a capacidade de o Estado tomar empréstimos, o impacto no potencial de investimento do governo estadual seria multiplicado.
A gestão tucana deixa, assim, de acumular um volume de recursos que, bem aplicado, poderia fazer muita diferença. As chances do governador Serra de tornar-se o candidato do PSDB à Presidência da República em 2010 -e de, vencida essa batalha, concorrer ao Planalto com possibilidade de vitória- estarão diretamente associadas ao balanço administrativo de sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes.


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