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Leilão fracassado
Governo Serra arriscou e deixou de ganhar R$ 6,6 bi com a Cesp; desfecho terá conseqüências econômicas e políticas
O GOVERNO José Serra
arriscou-se ao colocar
à venda a Companhia
Energética de São Paulo (Cesp) sem que tivesse sido
equacionado o problema da concessão de duas de suas usinas. Se
não arriscou o dinheiro público
que constitui o patrimônio da estatal, pois manteve o preço mínimo pelo controle em R$ 6,6 bilhões, contribuiu para o insucesso da privatização, a qual ampliaria fortemente a capacidade de
investir do Estado.
É verdade, como argumenta o
governador, que a tormenta nas
finanças globais ajudou no fracasso da operação. Imersos numa profunda crise de desconfiança, com apetite pelo risco
abalado, os grandes bancos do
planeta tendem a criar mais resistências para financiar negociações de vulto. A necessidade
de desembolso para a aquisição
da geradora paulista era da ordem de R$ 20 bilhões, considerados os pagamentos a acionistas
minoritários.
Mas, nas condições propostas,
a venda da estatal paulista agregava outro risco, de ordem regulatória, que não tinha relação
com o ambiente financeiro global. As concessões das hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, ambas instaladas no rio Paraná, expiram em 2015 e, pela norma vigente, precisam ser devolvidas à
União e submetidas a outra licitação. As duas usinas, juntas, geram dois terços da energia produzida pela Cesp.
É provável que a regra seja flexibilizada até lá, até porque há algumas usinas federais na mesma
situação das duas hidrelétricas
da Cesp. Subsistia, porém, alguma incerteza, o que ajudou a afugentar compradores e financiadores e lhes deu pretexto para
especular contra o leilão, na expectativa de que o governo baixasse o preço. Existindo, ademais, oportunidades de negócio
à frente -como o leilão de Jirau,
no rio Madeira- sem esse risco
regulatório, a disposição de
eventuais compradores para a
Cesp diminuiu.
O fracasso do leilão da estatal
paulista terá repercussões econômicas e políticas. Os R$ 6,6 bilhões que a administração estadual cobrava pela privatização
seriam suficientes, por exemplo,
para construir três linhas inteiras do caríssimo metrô na capital. Se os recursos fossem utilizados para elevar a capacidade de o
Estado tomar empréstimos, o
impacto no potencial de investimento do governo estadual seria
multiplicado.
A gestão tucana deixa, assim,
de acumular um volume de recursos que, bem aplicado, poderia fazer muita diferença. As
chances do governador Serra de
tornar-se o candidato do PSDB à
Presidência da República em
2010 -e de, vencida essa batalha,
concorrer ao Planalto com possibilidade de vitória- estarão diretamente associadas ao balanço
administrativo de sua passagem
pelo Palácio dos Bandeirantes.
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