São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Gás paralisante

BRASÍLIA - Todo mundo só fala na "paralisia" do governo Lula, mas os governadores comprovam. Como? Com dados.
Convênios tradicionais nem são assinados, programas federais estão parados, verbas não chegam aos Estados. Quando reclamam, a resposta de Lula e dos ministros é padrão: é tudo choradeira da oposição, às vésperas das eleições municipais.
Pode não ser tão simples. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, mostrou ontem dados preocupantes numa área muito preocupante em si própria: segurança.
Com a violência grassando solta, o fundo de segurança simplesmente empacou. Em 2000, São Paulo recebeu R$ 30 milhões; em 2001, R$ 42,8 milhões; em 2002 (último ano do governo FHC), R$ 98,2 milhões. E o que aconteceu no governo Lula? Em 2003, a previsão era de R$ 30 milhões, menos de um terço do ano anterior, num recuo flagrante aos valores de três anos antes.
O pior é que... nem isso saiu. Os repasses de 2003, segundo Alckmin, foram zero, nada, coisa nenhuma. E os de 2004 nem estão previstos, porque os convênios não foram assinados.
Bem, Alckmin é tucano, de oposição, a gente tem de dar um desconto. Mas e os outros?
Por exemplo: o PMDB integra a base aliada do governo Lula e está ganhando cargos e mais cargos até na Petrobras e na CEF. Os governadores do partido, porém, não estão mais dóceis com o governo federal do que os tucanos. Germano Rigotto (RS) que o diga. Para ele, é "vergonhoso" o governo só repassar R$ 6,5 bilhões dos R$ 8,5 bilhões acertados como compensação para as perdas dos Estados nas exportações.
O que fica no ar é se eles acham que o governo do PT não repassa nada porque é inexperiente e incompetente ou se é obcecado por superávits fiscais recordes ainda maiores do que o acordado com o FMI -de 4,25% do PIB.
No fundo, tem de tudo um pouco: inexperiência, "bateção de cabeça" e arrocho mais realista que o do rei. Quem paga o pato nem são os governadores. Somos nós, os governados.


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