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ELIANE CANTANHÊDE
Gás paralisante
BRASÍLIA - Todo mundo só fala na "paralisia" do governo Lula, mas os
governadores comprovam. Como?
Com dados.
Convênios tradicionais nem são assinados, programas federais estão
parados, verbas não chegam aos Estados. Quando reclamam, a resposta
de Lula e dos ministros é padrão: é
tudo choradeira da oposição, às vésperas das eleições municipais.
Pode não ser tão simples. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), por
exemplo, mostrou ontem dados preocupantes numa área muito preocupante em si própria: segurança.
Com a violência grassando solta, o
fundo de segurança simplesmente
empacou. Em 2000, São Paulo recebeu R$ 30 milhões; em 2001, R$ 42,8
milhões; em 2002 (último ano do governo FHC), R$ 98,2 milhões. E o que
aconteceu no governo Lula? Em 2003,
a previsão era de R$ 30 milhões, menos de um terço do ano anterior,
num recuo flagrante aos valores de
três anos antes.
O pior é que... nem isso saiu. Os repasses de 2003, segundo Alckmin, foram zero, nada, coisa nenhuma. E os
de 2004 nem estão previstos, porque
os convênios não foram assinados.
Bem, Alckmin é tucano, de oposição, a gente tem de dar um desconto.
Mas e os outros?
Por exemplo: o PMDB integra a base aliada do governo Lula e está ganhando cargos e mais cargos até na
Petrobras e na CEF. Os governadores
do partido, porém, não estão mais
dóceis com o governo federal do que
os tucanos. Germano Rigotto (RS)
que o diga. Para ele, é "vergonhoso" o
governo só repassar R$ 6,5 bilhões
dos R$ 8,5 bilhões acertados como
compensação para as perdas dos Estados nas exportações.
O que fica no ar é se eles acham que
o governo do PT não repassa nada
porque é inexperiente e incompetente
ou se é obcecado por superávits fiscais
recordes ainda maiores do que o
acordado com o FMI -de 4,25% do
PIB.
No fundo, tem de tudo um pouco:
inexperiência, "bateção de cabeça" e
arrocho mais realista que o do rei.
Quem paga o pato nem são os governadores. Somos nós, os governados.
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