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MARCOS NOBRE
Marina
COM CIRO GOMES enterrado
vivo, Marina Silva ficou sozinha na posição de válvula de
escape posta entre os dois polos da
política brasileira. Pelo menos desde que esses dois polos se estabilizaram de vez, a partir de 2006.
É um papel ingrato, próprio de
uma democracia precária. PT e
PSDB formaram um cartel para excluir outros competidores pela liderança da política oficial. Só pela
liderança, infelizmente, já que o
efetivo domínio cabe a um centro
político disforme, cada vez mais
com a cara do PMDB. Mas foi esse,
enfim, o produto da longa, penosa e
sobressaltada transição democrática brasileira.
Não se sabe o que virá pela frente, claro. Se, com o tempo, esse será
o caldo de cultura propício à eleição de um tipo ultraconservador
-como indica o caso recente de Sebastián Piñera no Chile. Se um novo polo aparecerá -coisa que anda
passando no mundo no último ano.
Se a amplitude da base comum aos
dois polos vai chegar ao ponto de
quase anular as diferenças -afinal,
não é irrelevante que todas as figuras políticas mais jovens com
pretensões falem em produzir a
convergência entre eles. Marina
inclusive.
E aí está o principal problema. É
verdade que Marina está tentando
sair do beco em que a política brasileira encurralou sua candidatura.
Quer convencer que é candidata
para vencer, e não apenas para figurar. Mas comete o equívoco de
achar que, para ganhar, tem de se
apresentar também ela como variante do mesmo modelo. Só que,
nesse figurino, não há espaço para
mais nada que não seja a polarização entre PT e PSDB.
Até agora, Marina só conseguiu
produzir confusão. Montou uma
equipe que vai de um progressista
histórico como Alfredo Sirkis até
um conservador notório como
Eduardo Giannetti da Fonseca.
Pressionada pelos setores mais
progressistas de seu partido, recolhe-se a uma timidez ideológica lamentável. Instada pelos mais conservadores a se mostrar confiável,
lembra seu apoio ao MST.
A continuar assim, Marina não
vai conseguir evitar a sensação de
um esforço inútil, a sensação de
que o país perdeu uma grande senadora para ganhar apenas mais
um sparring de alto nível para PT e
PSDB disputarem o título que realmente interessa. Pelo menos na visão oficial do sistema político que
representam.
Hoje, só Marina está em condições de tornar esta eleição melhor,
forçando uma discussão de alternativas mais substantiva. Só ela poderia tentar bagunçar o roteiro já
previamente combinado entre PT
e PSDB. E evitar a velha sensação
de que já vimos esse filme e que, no
final, a democracia perde.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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