São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI "Esculacho" SÃO PAULO - Consta que, ao ser
preso, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes (da Rede Globo)
disse aos policiais: "Prende, mas
não esculacha". Queria dizer: prender, tudo bem, faz parte do jogo.
Mas sem bater ou humilhar.
Suspeito que a parte sadia da sociedade brasileira deveria agora dizer algo parecido ao mundo político, governantes obviamente incluídos: "Não esculachem".
Corrupção, passou batida. Enquanto os Estados Unidos acabam
de condenar os executivos da
Enron, no Brasil ninguém foi preso
em nenhum dos mil escândalos recentes e não tão recentes (Edemar
Cid Ferreira, preso ontem, só pode
ter sido acidente de trabalho, porque, aqui, nem assassinos confessos
ficam presos).
Passou tão batida que um advogado, suspeito de trabalhar para o
crime organizado, não tem pejo nenhum de praticar o "esculacho" em
pleno Congresso Nacional, do que
dá prova o seguinte diálogo entre o
deputado Arnaldo Faria de Sá e o
advogado Sérgio Weslei da Cunha:
Arnaldo: "Você aprendeu bem
com a malandragem, hein?".
Sérgio Weslei: "A gente aprende
rápido aqui".
Para completar o "esculacho", todas as reações do público que recebi
pedem a prisão dos deputados, não
a do advogado, a única que acabou
de fato acontecendo.
É claro que não se inventou ainda
um "desmoralizômetro" para medir o desgaste de autoridades/instituições, mas parece igualmente claro que o "esculacho" do mundo político jamais foi tão marcante, tão
contundente.
Não é tudo: quando policiais dão
entrevistas à TV com o rosto (e o
nome) escondido, como vem acontecendo reiteradamente, está oficializado o "esculacho" que um
bandido não quis para si, mas que
seus colegas impuseram ao país.
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