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CARLOS HEITOR CONY
Os bárbaros, de novo
RIO DE JANEIRO - Quanto mais explicam, menos entendo o que se
passa no Rio de Janeiro com a escalada da violência urbana, atribuída
genericamente ao crime organizado e ao tráfico de drogas.
Primeira dúvida: crime organizado e tráfico são a mesma coisa?
Uma decorrência em que os traficantes, para assustarem a sociedade, desmoralizam o Estado? Ou
duas vertentes paralelas e simultâneas de dois bandos, que podem
adotar táticas comuns, mas com
objetivos diversos?
O crime organizado, inspirado
na máfia e em certas sociedades secretas, tenta substituir o Estado, colocando-o sob a tutela de uma nova
ordem, não bem definida ideologicamente, mas contrária aos valores
morais e legais até aqui solicitados.
O tráfico parece restrito ao comércio das drogas, montando uma
já poderosa estrutura, que inclui
desde as relações com os fornecedores e consumidores até uma
poderosa rede de autoproteção -e
é nesta rede de autoproteção que
ocorre a fusão com o crime
organizado.
De qualquer forma, paralelas ou
unificadas, as duas vertentes estão
levando ao desespero não apenas a
sociedade mas o próprio governo,
que não está preparado para um fato realmente novo: uma guerrilha
prolongada, que, ao contrário da
guerrilha política, após a guerra civil, altera a regra do jogo social e
econômico.
A guerrilha do crime organizado
ou do tráfico trabalha sem prazo,
sem uma finalidade específica, bastando-se a si mesma. Se vencerem a
batalha, não faltarão teóricos para
explicar a nova modalidade de Estado e o novo perfil da sociedade.
Foi assim quando os bárbaros
atravessaram os limites do mundo
mediterrâneo, criando uma escala
de valores que resultou numa forma de civilização que está sendo
contestada pelos novos bárbaros.
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