São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Os bárbaros, de novo

RIO DE JANEIRO - Quanto mais explicam, menos entendo o que se passa no Rio de Janeiro com a escalada da violência urbana, atribuída genericamente ao crime organizado e ao tráfico de drogas.
Primeira dúvida: crime organizado e tráfico são a mesma coisa? Uma decorrência em que os traficantes, para assustarem a sociedade, desmoralizam o Estado? Ou duas vertentes paralelas e simultâneas de dois bandos, que podem adotar táticas comuns, mas com objetivos diversos?
O crime organizado, inspirado na máfia e em certas sociedades secretas, tenta substituir o Estado, colocando-o sob a tutela de uma nova ordem, não bem definida ideologicamente, mas contrária aos valores morais e legais até aqui solicitados.
O tráfico parece restrito ao comércio das drogas, montando uma já poderosa estrutura, que inclui desde as relações com os fornecedores e consumidores até uma poderosa rede de autoproteção -e é nesta rede de autoproteção que ocorre a fusão com o crime organizado.
De qualquer forma, paralelas ou unificadas, as duas vertentes estão levando ao desespero não apenas a sociedade mas o próprio governo, que não está preparado para um fato realmente novo: uma guerrilha prolongada, que, ao contrário da guerrilha política, após a guerra civil, altera a regra do jogo social e econômico.
A guerrilha do crime organizado ou do tráfico trabalha sem prazo, sem uma finalidade específica, bastando-se a si mesma. Se vencerem a batalha, não faltarão teóricos para explicar a nova modalidade de Estado e o novo perfil da sociedade.
Foi assim quando os bárbaros atravessaram os limites do mundo mediterrâneo, criando uma escala de valores que resultou numa forma de civilização que está sendo contestada pelos novos bárbaros.


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