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Ricos vs. emergentes
Países em desenvolvimento buscam mais espaço no FMI; ideia de mandato-tampão, se adotada, daria mais tempo para formar novo consenso
A sucessão imprevista no comando do Fundo Monetário Internacional (FMI) trouxe à baila, com
força renovada, a proposta de mudar o balanço de poder dentro da
instituição, para dar mais espaço
às nações emergentes.
Há três anos, muito antes de o
diretor-gerente Dominique
Strauss-Kahn cair em desgraça,
acusado de um ataque sexual, já
havia sido acordada uma alteração nas cotas, espécie de composição acionária do Fundo.
O Brasil passará, quando a mudança estiver concluída, a ser a
10ª força na instituição (era a 14ª).
A China deixa a 6ª colocação e torna-se a 3ª maior cotista. Economias em desenvolvimento conquistam, assim, mais participação
-e maior poder de voto.
É natural, portanto, que os
emergentes busquem aproveitar o
vácuo causado pela saída abrupta
de Strauss-Kahn para ganhar espaço no comando do Fundo. Como se sabe, desde sua criação, nos
anos 1940, o FMI sempre foi comandado por um europeu. Vigorou, até aqui, um acordo com os
Estados Unidos, pelo qual os norte-americanos ocupam a presidência do Banco Mundial.
O momento atual, no entanto,
não é propício a disputas de poder
que possam levar a uma paralisia
do Fundo. Três países europeus já
foram obrigados a recorrer a resgates de bilhões de euros, em
acordos em que o FMI teve papel
crucial. Nada indica que novos pacotes estejam descartados. Antes
de sua queda, Strauss-Kahn negociava justamente um reforço extra
para a Grécia, à beira do calote.
Nesse contexto, ganha fôlego a
ideia ventilada pelo ministro da
Fazenda, Guido Mantega, de um
mandato-tampão até o que seria o
final da gestão de Strauss-Kahn,
em novembro do ano que vem.
Parece uma proposta prudente,
mas não pelo argumento europeu
-disparatado- de que alguém do
continente entende melhor os
problemas dos países em dificuldades. É fato que será necessário
um nome com densidade política
suficiente para obter medidas impopulares dos socorridos, ao mesmo tempo em que conte com a
confiança das tradicionais potências -ainda muito influentes no
Fundo, a despeito da reforma.
A origem nacional dos candidatos não deve ser, como foi até hoje,
pré-requisito para ocupar a liderança do FMI. Mas também não
pode surgir como um impeditivo.
A favorita para essa transição é
a ministra francesa das Finanças,
Christine Lagarde. Os países
emergentes devem analisar se sua
escolha preenche os requisitos de
que o FMI ora necessita, sem fazer
da sucessão um instrumento de
disputa política prematura.
A crise econômica tirou o Fundo do oblívio. A solução-tampão
ganha tempo para que a escolha
definitiva, em um ano e meio, surja do consenso em torno de um nome capaz de manter a relevância
em recuperação pelo FMI.
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