São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011

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Ricos vs. emergentes

Países em desenvolvimento buscam mais espaço no FMI; ideia de mandato-tampão, se adotada, daria mais tempo para formar novo consenso

A sucessão imprevista no comando do Fundo Monetário Internacional (FMI) trouxe à baila, com força renovada, a proposta de mudar o balanço de poder dentro da instituição, para dar mais espaço às nações emergentes.
Há três anos, muito antes de o diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn cair em desgraça, acusado de um ataque sexual, já havia sido acordada uma alteração nas cotas, espécie de composição acionária do Fundo.
O Brasil passará, quando a mudança estiver concluída, a ser a 10ª força na instituição (era a 14ª). A China deixa a 6ª colocação e torna-se a 3ª maior cotista. Economias em desenvolvimento conquistam, assim, mais participação -e maior poder de voto.
É natural, portanto, que os emergentes busquem aproveitar o vácuo causado pela saída abrupta de Strauss-Kahn para ganhar espaço no comando do Fundo. Como se sabe, desde sua criação, nos anos 1940, o FMI sempre foi comandado por um europeu. Vigorou, até aqui, um acordo com os Estados Unidos, pelo qual os norte-americanos ocupam a presidência do Banco Mundial.
O momento atual, no entanto, não é propício a disputas de poder que possam levar a uma paralisia do Fundo. Três países europeus já foram obrigados a recorrer a resgates de bilhões de euros, em acordos em que o FMI teve papel crucial. Nada indica que novos pacotes estejam descartados. Antes de sua queda, Strauss-Kahn negociava justamente um reforço extra para a Grécia, à beira do calote.
Nesse contexto, ganha fôlego a ideia ventilada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de um mandato-tampão até o que seria o final da gestão de Strauss-Kahn, em novembro do ano que vem.
Parece uma proposta prudente, mas não pelo argumento europeu -disparatado- de que alguém do continente entende melhor os problemas dos países em dificuldades. É fato que será necessário um nome com densidade política suficiente para obter medidas impopulares dos socorridos, ao mesmo tempo em que conte com a confiança das tradicionais potências -ainda muito influentes no Fundo, a despeito da reforma.
A origem nacional dos candidatos não deve ser, como foi até hoje, pré-requisito para ocupar a liderança do FMI. Mas também não pode surgir como um impeditivo.
A favorita para essa transição é a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde. Os países emergentes devem analisar se sua escolha preenche os requisitos de que o FMI ora necessita, sem fazer da sucessão um instrumento de disputa política prematura.
A crise econômica tirou o Fundo do oblívio. A solução-tampão ganha tempo para que a escolha definitiva, em um ano e meio, surja do consenso em torno de um nome capaz de manter a relevância em recuperação pelo FMI.


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